Em Taxi,
o diretor Tim Story tinha em mão um projeto em que parecia
muito à vontade. Havia um interesse enorme em
construir momentos cômicos sempre que possível; e tal
interesse parecia compartilhado pela produção, que importou
Jimmy Fallon do Saturday Night Live para protagonizar
o filme ao lado de Queen Latifah. Mesmo nas cenas de
ação, escancarava-se algum espaço para inserir uma piada.
Se ele não conseguiu desenvolver um tom de humor mais
absurdo, parece que não foi por falta de tentativa,
pois cada imagem parece ter sido criada para atingir
esta veia humorística. Toda a estrutura do filme foi
montada para dar espaço a isso, e todas as referências
ligadas à década de 80 eram das mais promissoras. Apesar
de em alguns momentos se conseguir alguns efeitos interessantes,
há um claro desespero por fazer rir que incomoda um
bocado. Muito dele calcado em referências, John Landis
em especial, que não conseguem nem de longe serem emuladas
satisfatoriamente.
Um filme como Quarteto Fantástico
provavelmente empurraria a direção de Story para um
lado bem diferente de Taxi. Há, agora, um orçamento
muito mais polpudo a ser torrado em efeitos especiais
- consequentemente, nas costumeiras cenas de ação megalomaníacas.
Mas o que mais parecia distanciá-lo das opções de seu
trabalho anterior era o fato dele fazer parte desta
nova leva de filmes de super-herói, incrivelmente receosa
de soarem bobos demais para o público-alvo adolescente,
o que não seria alcançado se mantivesse o ritmo ininterrupto
de piadas, muitas vezes deliberadamente infantis, do
seu trabalho anterior. Se mesmo os dois Homem-Aranha
parecem controlar seu senso de humor para não abusar
da receptividade do personagem, não era de se esperar
que Tim Story fizesse um filme muito similar ao seu
trabalho anterior. Ledo engano. Quarteto Fantástico
é, antes de qualquer coisa, uma comédia rasgada (pastelão,
na maior parte do tempo) e que se choca frontalmente
com o tipo de modelo do qual se esperava uma certa rigidez.
O próprio elenco nada carismático,
canastrão do início ao fim, funciona como uma ferramenta
cômica das mais acertadas. E mesmo a narrativa absurda
e cheia de furos do filme é maximizada a ponto de soar
quase como uma paródia, com uma série de clichês que
parecem ter buscado inspiração menos nas mais recentes
adaptações de quadrinhos que nos clássicos e ingênuos
desenhos animados que surgiram a partir de personagens
dos mesmos há algumas décadas. Irresistivelmente maniqueísta
e sem vergonha, há uma veia B e picareta que não se
esperava de forma alguma se encontrar num tipo de blockbuster
deste. Todo este clima proporciona momentos dos mais
saudáveis como na gratuita cena em que Jessica Alba
aparece de sutiã e calcinha pelo simples prazer de se
mostrá-la assim. Ou ainda nas cenas quase surreais em
que se tenta apresentar o lado mulherengo do Tocha Humana.
Mesmo as cenas dramáticas são encenadas com uma canalhice
das mais saudáveis por em nenhum momento caírem em uma
chata auto-indulgência. Há um sentimento de uma equipe
e um elenco se divertindo e usando de toda a estrutura
que um filme deste porte possui como seu parque de diversões
particular.
Mas isso não é alcançado em um
percurso desprovido de acidentes. No meio do caminho,
esbarramos com vários planos horrorosos e mal encaixados
- uma vez que o diretor só trabalha imagens de uma maneira
menos que desastrosa quando se apóia em estruturas já
fixas e reconhecíveis (a seqüência que mostra o cotidiano
deles no apartamento em que se confinam é bem característica),
onde não há muita liberdade para que ele cometa seus
deslizes habituais. Tudo isso resulta em imagens frouxas
e limitadas, que muitas vezes trabalham contra as piadas
espalhadas pelo filme. E é a partir desta pouca segurança
formal que às vezes se tem a incômoda impressão de que
se está assistindo um prolongamento irritante de um
alívio cômico que deveria ter surgido e desaparecido
bem mais rapidamente. Ou pior; uma série de subterfúgios
para não ter que encarar as raras seqüências de ação
que aparecem no filme. Duas seqüências filmadas e montadas
de uma forma extremamente confusa, que parecem perdidas
no meio de tudo.
Mas, no
final das contas - em meio a brigas homéricas protagonizadas
por um homem de pedra, uma mulher invisível, um elástico
humano e um cara que entra em combustão para logo em
seguida levantar vôo -, nada soa tão absurdo quanto
as inúmeras gags de Quarteto Fantástico. Mesmo
sendo uma enganação grosseira, especialmente quando
se vê a forma como o filme foi vendido, em vários momentos
isto se revela um engodo dos mais deliciosos.
José Roberto Rocha
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