A
palavra "amigos" é de fato a chave
para se começar a pensar essa comédia
de 1986. Uma brincadeira entre parceiros, capitaneada
pelo produtor Lorne Michaels principal cabeça
por trás do humorístico Saturday Night
Live e concretizada, além dele, pelo ator
Steve Martin, o compositor Randy Newman (os três
assinam o roteiro) e contando com Landis na direção.
Responsável pela primeira transposição
de um quadro do SNL para o cinema (Os Irmãos
Cara de Pau), Landis, dadas suas afinidades com
Michaels, foi uma escolha mais que óbvia para
este filme que, mesmo não sendo uma adaptação
de algo apresentado anteriormente pelo programa da NBC,
tem nele e em seu espítito fincados os dois pés.
Mas que, como a grande maioria das versões para
cinema de atrações do SNL exceto
pelos filmes dos Blues Brothers e de Waynes
World guarda aquela inevitável marca de
mais parecer um esquete esticado em demasia.
O ponto de partida do roteiro é o mesmo pretexto
da trama de Os Sete Samurais/Sete Homens e um Destino:
os moradores de uma aldeia mexicana acossada por bandoleiros
buscam a ajuda de pistoleiros que possam vir em seu
socorro. Por uma série de equívocos, o
pedido acaba sendo encaminhado aos Três Amigos
do título (Steve Martin, Martin Short e Chevy
Chase, todos com marcantes passagens pelo SNL),
um trio decadente de astros de comédias mudas,
nas quais sempre interpretavam justiceiros. Daí
se apreendem as confusões que deverão
render do encontro entre eles, o povo da aldeia e os
bandidos. Pululam as referências, não somente
ao western que John Sturges dirigiu inspirado
em Kurosawa, mas também ao cinema de Sam Peckimpah
e Sergio Leone. Só que, acima disso, Três
Amigos se pretende uma reverência a todos
os astros da comédia burlesca que se fez na primeira
metade do século XX, partindo do cinema mudo
e passando por Irmãos Marx, W.C. Fields, Laurel
& Hardy, Abbott & Costello, os Três Patetas
e a série Road to..., com Bob Hope e Bing
Crosby.
Mesmo contando com tão nobres referências,
ou, principalmente, talvez pelo excesso delas, Três
Amigos! é um filme tremendamente descompassado.
Apesar do apuro visual que Landis investiu na direção,
o filme alterna momentos certamente engraçados
a outros bastante infelizes. A comédia carece
de uma unidade, e as boas seqüências, principalmente
aquelas com os números musicais compostos por
Newman em especial o lamento no deserto, onde os animais
se unem ao coro dos heróis e a cena envolvendo
um arbusto cantante e um espadachim invisível
puro Monty Pyton ficam um tanto como dispersas no
contexto geral. Esse descompasso fica também
visível nas atuações do trio de
protagonostas, todos com aproveitamento aquém
do seu potencial, em especial o grande Chevy Chase,
então no auge da fama, mas aparentemente sem
ter o que fazer durante todo o filme. Com isso, a figura
mais marcante acaba sendo o bandidão El Guapo
(interpretado pelo cineasta mexicano Alfonso Arau).
De Três Amigos! fica principalmente a impressão
de ter sido esse o único momento, durante a década
de 80, no qual a sopa de humor, gêneros e referências
misturados por Landis em seu caldeirão desandou.
Em especial pelo fato de que, ao contrário dos
demais títulos da década, nos quais Landis
partia das referências históricas para
recontextualizá-las no momento e no cinema de
sua época, temos aqui as referências se
bastando em si mesmas. Com isso, o espectador, apesar
de certamente ser presenteado com alguns momentos de
diversão, acaba se sentindo a maior parte do
tempo como as personagens de Chase e Martin quando Martin
Short lhes conta uma piada absurda sobre um avião
e eles ficam tentando descobrir onde estaria a graça.
Gilberto Silva Jr.
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