ESPIONAGEM NA REDE
Olivier Assayas, demonlover, França, 2002

O olhar interrompido

"O verdadeiro herói, o verdadeiro assunto, no centro da Ilíada é poder. Poder empregado pelo homem, poder que escraviza o homem, poder antes da qual a carne humana se estremece. Neste trabalho, a todo momento, o espírito humano é mostrado como marcado pelas suas relações de poder, carregado para longe, cegado, pelo mesmo poder que ele imaginou poderia controlar, deformado pelo peso do poder que ele se submeteu para.... Portanto a violência oblitera qualquer um que sinta o seu toque. Ela termina por parecer tão externa ao seu empregador quanto para sua vítima. E dai nasce a idéia de um destino diante do qual executor e vítima encontram-se igualmente inocentes..., irmãos na mesma angústia."
Simone Weil, 1939 1


Underworld

Houve dois rumos do bom cinema francês pós-nouvelle vague: os cineastas que tiveram uma existência marginal durante a década de 60 (Pialat, Eustache, Garrel, Rozier) que realizaram uma radicalização do realismo fenomenológico do Bazin; e do outro lado um cinema que retornava mais a questões como narrativa e personagem, encabeçado primeiramente por nomes como André Téchiné e Benoit Jacquot (aquilo a que os menos entusiastas se referem como cinema psicológico francês) e de forma mais experimental em alguns filmes que Jacques Rivette começou a realizar no período (Duelle, Noroît). Tudo isto se combina de diferentes formas na excepcional geração de cineastas franceses surgida entre o final dos anos 80 e começo dos 90 (Assayas, Desplechin, Denis, Beauvois), um fenômeno que tende a passar em branco no Brasil, já que os filmes destes cineastas seguem criminosamente alijados do circuito comercial e raramente passam mesmo em festivais (Denis e Desplechin nunca passaram na Mostra SP, por exemplo). Este fato torna o lançamento deste demonlover (com o genérico título de Espionagem na Rede), mesmo que apenas em DVD, um acontecimento (Imovision promete o recentíssimo Assayas, Clean, para breve).

Olivier Assayas começou a carreira escrevendo nos Cahiers du Cinéma no final dos anos 70, onde se destacou como um crítico capaz de abraçar Ingmar Bergman e Tsui Hark e traçar relações entre John Carpenter e os filmes finais de Robert Bresson. Há uma patente inquietação no cinema de Assayas desde a estréia com Desordre, em 86. "Como o cinema pode melhor refletir o mundo?", é a questão que assombra todo o seu cinema. Não surpreende que sua carreira (10 filmes até aqui) seja tão variada, ao contrário de tantos autores contemporâneos que estabelecem um nicho para si próprios e se satisfazem com variações dentro dele. Dessa forma, um drama de época como Os Destinos Sentimentais é seguido por um cyberthriller como demonlover. A necessidade de buscar novas formas para lidar com novos problemas, buscar formas para lidar com experiências que o cinema ainda não se resolveu sobre como retratar: é isto que está antes de mais nada em questão num filme como demonlover (mas o mesmo pode-se dizer de um Irma Vep ou L’Enfant d’Hiver). Este movimento pode se dar quando mergulhando na tradição para dali tirar o inesperado, como num filme como demonlover que mergulha no que já pode ser visto como uma tradição contemporânea para dali também tirar algo inexistente. È isto no final das contas que torna tão difícil apresentar cineastas como Assayas e Desplechin para o público brasileiro (basta observar como este próprio artigo segue retornando a comparações), pois afinal, com um Tsai Ming-liang – grande cineasta – não deixamos de estar num terreno já conhecido e mapeado desde os anos 60, mesmo que feito pessoal e aprimorado. O mesmo não se pode dizer destes franceses. Um crítico pode associar Desplechin a Rivette ou dizer que demonlover é só mais um thriller pós-moderno, mas a verdade é que se estes cineastas são cinéfilos com grande conhecimento da história do cinema, eles usam este conhecimento para fins muito particulares. Ver A Sentinela (Desplechin) ou Água Fria (Assayas) é bater de frente com experiências cinematográficas únicas.

Não surpreende, portanto, que exista em Assayas uma certa desconfiança para com a herança de Bazin. Um cinema da evidência baseado num principio de realismo ontológico já não basta (ou melhor, já é um caminho muito bem trilhado e coberto por um sem número de outros cineastas), e no lugar dele encontramos um cinema da experiência baseado num esforço de marcar na imagem toda uma experiência particular de mundo de um ou mais personagens. A festa em Água Fria é a seqüência-chave disso, mas exemplos pulam em cada momento de demonlover: basta pensar em Connie Nielsen pegando um elevador após ter seu flerte com um colega de trabalho interrompido, para ficar num exemplo simples. Assayas apontou em entrevistas que um dos fatores decisivos na concepção de demonlover foi a sua descoberta dos romances de Don DeLillo, em especial Submundo (um calhamaço de 800 paginas sobre os efeitos da Guerra Fria e sua subseqüente desestruturação no mundo), algo evidente na forma como o filme radicaliza ainda mais certas opções estruturais dos filmes anteriores, assim como na forma como mais do que nunca Assayas nos apresenta um filme de idéias. Elipse sempre foi um formato querido a Assayas, que certa vez fez um filme (Une Nouvelle Vie, 1993) previsto em parte na idéia de contar em duas horas algo que fora concebido para três. Seqüências com freqüência começam pela metade, nos lançando de forma não-mediada na ação (o avião na seqüência de abertura, a reunião de negócios). demonlover não promove uma narrativa, mas, como os melhores livros de DeLillo, nos presenteia com ecos de uma que gira em torno de uma série de idéias e observações. Daí não fazer muito sentido a freqüente comparação do filme com Videodrome de Cronenberg. Sim, a trama dos dois filmes tem seus pontos de contato – em especial no último ato – e é verdade que Assayas esteve na linha de frente da defesa do filme à época do seu lançamento, mas as questões aqui são outras, o problema se desenvolveu em outras direções. demonlover é um filme muito preocupado sobre como nós vemos, como experienciamos as narrativas à nossa frente. Assayas promove um diálogo direto com o atual cinema americano.Ver demonlover não é uma experiência tão distante assim de ver um Van Helsing desprovido do seu lado circense. Esta aproximação é um ato de profunda curiosidade intelectual, assim como de reconhecimento de que estas formas que tanto fascinam o cineasta têm por vezes mais a dizer que modelos tradicionais desenvolvidos no circuitinho de arte.

O que o sorriso de Connie Nielsen revela? Mais do que nunca estamos no terreno das personagens opacas (Maggie Cheung já era uma em Irma Vep, mais ainda por estar interpretando a si mesma). A aproximação tanto com DeLillo quanto com o cinema americano contemporâneo se mostra bem clara na caracterização turva dos personagens, ao mesmo tempo em que o filme jamais deixa de funcionar a partir deles. As motivações obscuras se refletem na narrativa em estilhaços, não por algum truque de roteiro – a complexidade narrativa aqui é ponto de partida e não de chegada –, mas porque esse comportamento melhor reflete o mundo de racionalismo irracional que os personagens habitam. Assayas e o thriller corporativo marcam um encontro perfeito: a capacidade de transformação, de se adaptar às novas situações é algo que o cineasta valoriza tanto nos seus personagens quanto no seu processo de trabalho. No mundo cão corporativo de demonlover é justamente isso o que mais se valoriza, a capacidade de se revelar mais maleável, adaptável a cada novo problema e situação (e o mundo do filme permanece mesmo em constante transformação). Daí um dos grandes achados do filme ser a figura do executivo Harvé, muito por sorte já que o cineasta originalmente pretendia escalar o astro espanhol Sergi Lopez (o que aumentaria a sensação de filme multinacional que demonlover exala), mas terminou com Charles Berling que havia então recém-protagonizado Os Destinos Sentimentais para Assayas – e o filme seria impossível de imaginar sem a figura wellesiana que Berling constrói. O único homem dominante num universo predominantemente feminino (há um chefe, mas ele assiste a tudo às margens), ele é o único a projetar uma imagem agressiva: em um momento charmoso, noutro detestável, calculista e tímido, paciente e agressivo. Enquanto cada uma das personagens parece se portar de forma a projetar a imagem que os demais exigem dela, Harvé parte do principio oposto e impõe a imagem que a situação sugere. Ele parece ser o único a compreender por completo a lógica do universo que habita, ao mesmo tempo em que permanece até o fim um enigma. Se demonlover é entre outras coisas um filme sobre poder, Berling sugere uma espécie de Sr. Arkadin do novo milênio. Mas neste filme marcado por um desejo pela imagem, mesmo esta explicação fica no ar. Para comprar a idéia de que Harvé é uma figura de poder corruptora à Welles, depende de até que ponto o espectador deseja que o quebra-cabeças de demonlover faça sentido, e o diretor deixa amostras o suficiente para sugerir que ele não precisa fazer nenhum, ao menos no plano narrativo.

Daydream Nation

A imagem coreografada é um bom nome para um estudo sobre uma certa sensibilidade cinematográfica que começa a dar as caras a partir de meados dos anos 80 (alguns sinais primitivos dela já davam as caras na década de 70)2. É o cinema como verdadeira música da luz, a imagem pensada a partir de um princípio que é antes de mais nada musical. Algo que pode ser observado, por exemplo, em Wong Kar-wai em Hong Kong, em Richard Linklater e Spike Lee nos EUA e em toda esta geração do cinema francês (algo que contagia até um veterano como Jacques Rivette, basta olhar seu Haut/Bas/Fragile [Paris no Verão], o grande musical dos anos 90). Assayas é um dos grandes mestres disso: basta observar Nathalie Richard deslizando pela tela em Irma Vep. É um cinema do corpo, do gesto, onde se realiza uma verdadeira simbiose entre a linguagem corporal do ator e a câmera do cineasta. Exemplos pulam em demonlover: a forma como Nielsen caminha em direção ao banheiro para drogar uma colega; Chloe Sevigny jogando videogame; a briga entre Nielsen e Gina Gershon; e – minha favorita – o passeio noturno de Nielsen e Sevigny. Se o cinema sempre buscou inspiração na literatura ou no teatro, porque não na música pop? Não se trata só de escolher a trilha certa para cada momento, mas de reperspectivar o gesto humano, desenvolver uma linguagem que reacople o movimento a partir da partitura musical, mesmo que a trilha sonora seja discreta ou inexistente (o que é visível em demonlover, graças ao elegante trabalho do Sonic Youth). demonlover tem até as duas melhores perseguições de carro do cinema contemporâneo, e tudo graças ao casamento perfeito entre o movimento dos carros e a música incidental da banda.

Mas o que Assayas e Sonic Youth conseguem aqui é algo único na carreira do cineasta, comparável apenas às parcerias que Abel Ferrara desenvolveu com Joe Dalia e, mais recentemente, Schooly D. Pode-se mesmo dizer que demonlover é uma espécie de musical mutante. O gênero tão freqüentemente dado – erroneamente já que fora dos EUA ele segue dando bons filhotes – como morto ressurge aqui numa versão atualizada e única, com a imagem opaca e seca da mise en scène de Assayas entrando em contato com o experimentalismo barulhento da banda de Thurston Moore. Com freqüência o filme parece abandonar o roteiro em favor da música, seu verdadeiro guia (a trilha foi composta antes das filmagens). É ao Sonic Youth que Assayas mais se afina, e é muito disso que surge o que há de frescor em demonlover em relação aos filmes anteriores do cineasta. A banda merece ser vista como co-autora do filme: seu trabalho não é só integrar a mise en scène do filme, ela é a mise en scène. A experiência demonlover é por vezes a tradução cinematográfica do trabalho do Sonic Youth. Podemos dizer que se trata do primeiro filme rodado em soundscope. Mas não se trata de um enriquecimento de mão única, já que as imagens de Assayas dão uma bela âncora para o trabalho da banda (a trilha é de certo um dos melhores trabalhos recentes deles e fica melhor ainda quando acompanhada do filme). Só por isto este musical pós-tudo seria um óvni único no cenário do cinema americano, mas ela é só parte da engrenagem deste fascinante objeto estético.

Este musical corporativo é o formato perfeito para que Assayas desenvolva seu universo sensorial. demonlover é um filme entre, seu espaço sendo o da transição. Não à toa boa parte da ação filmada ocorre em locais impessoais: hotéis, aeroportos, aviões, escritórios de grandes corporações, mesmo o apartamento de Nielsen é mobiliado como se fosse um espaço provisório. Este filme transnacional se recusa a estabelecer uma identidade própria para cada um dos lugares visitados: Paris, Tóquio, Estados Unidos, todos resultam no mesmo lugar em suspenso. O filme se equilibra neste universo sem identidade, sem história, sem qualquer senso de concreto, o que as imagens etéreas de Assayas (e a trilha do Sonic Youth) estabelecem. Poucas vezes (pensemos nos filmes de Jerzy Skolimowski ou em O Desprezo) o estatuto de co-produção internacional foi tão bem usado em favor de um filme. Com seu elenco internacional (atores suecos, franceses, japoneses e americanos), filmagens pelo mundo todo, gênero nipo-americano, o filme consegue transformar suas condições de produção em dado essencial do que capta. O auge desta impressão de mundo sem barreiras deve se dar na discussão entre Nielsen e Sevigny onde as atrizes variam por nenhuma razão entre o francês e o inglês. O filme também termina por funcionar como um estranho espelho invertido para com Irma Vep, com sua estrela internacional, seus diálogos em inglês macarrônico e sua apropriação de um filme (Les Vampires) que, se pertence à história do cinema francês, é também graças à sua tendência de apropriação cultural – o que é radicalizado em sua continuação Tih Mihn, nunca mencionada diretamente, mas cujo espírito também animava o filme anterior –, um exemplar avant la lettre do tipo de barreira transnacional que Assayas trabalha aqui.

Só que Irma Vep ainda trabalha a partir de uma experiência que é antes de mais nada francesa, enquanto dissolve isso tudo numa espécie de estética do borrão em que o filme lança suas garras sobre uma experiência bem mais geral. O filme constrói neste encontro música + imagem seu ritmo próprio bastante peculiar, que por vezes lembra a forma confusa com que se passeia pela web – assim como a maneira com que a imagem é absorvida em DVD ou VHS –, e mais importante, em como estes modelos de absorção de informação e imagem marcam a nossa experiência diária. Poucos filmes captam com tamanha precisão o misto de quase familiaridade e quase interesse com que o turista do deslocamento contemporâneo se move pelos mais diferentes lugares. O filme não investe no tédio sub-Antonioni de seus turistas – a saída fácil do atual cinema de arte para não lidar com o mundo –, preferindo registrar como seus personagens reagem com um não-olhar. A estética de Assayas sempre foi da escrita na imagem – no sentido que Serge Daney aplica 3 – e diz muito sobre a grandeza de demonlover o filme evitar criticar diretamente o tipo de agressão cultural que este universo sem barreiras impõe, optando em vez disso por deixar que esta agressão se insira na imagem e respire.

New Rose Hotel

Mas demonlover é primordialmente um filme da angústia da imagem e do observador/gerador delas que é Olivier Assayas, um filme marcado pela profunda curiosidade em se compreender o atual estado delas. Imagens mutantes, imagens vulgares: pornografia, mangas, violência, narrativas sustentadas por um fio condutor mínimo. Assayas mostra com freqüência estas imagens, nunca por tempos muito estendidos, mas o suficiente para nos deixar reconhecê-las, e depois corta para alguém que olha. O que eles vêem? O que eles sentem? Como eles reagem a elas? Como nós nos sentimos? É isto que está no centro do filme. Não se trata de alguma crítica feita à distância – estamos bem longe da seara do intelectual que resolve, por exemplo, dar seu parecer sobre o fenômeno dos reality shows. Nas palavras de Serge Kaganski, Assayas busca um "estilo que seja ao mesmo tempo produto, reflexão e crítica da sua época"4. O filme está impregnado por estas imagens, por estas formas de vê-la. O fascínio de Assayas por elas é tão grande quanto o nosso. Estamos aqui diante de uma mise en scène que nunca deixa de colocar seu cineasta em questão: quando Assayas filma brigas entre suas atrizes não restam dúvidas sobre o quanto ele as está pondo para realizar o seu próprio fetiche. Entre Assayas e o adolescente do final, a diferença principal é de meios de produção. Estas imagens mercantilizadas existem para suprir qualquer desejo do observador (basta pensar em Matrix e suas seqüências para não sairmos do universo do cyberthriller). Mas estas imagens nos olham tanto quanto nós as olhamos, influenciam diretamente a forma como nos movemos e olhamos o mundo. Daí este também ser um filme de horror, do horror da imagem, do horror do observador de imagens, do horror do não-olhar. Connie Nielsen nada vê porque a ação principal de demonlover reside sempre num fora de tela, ação demarcada por um Dr. Mabuse oculto (Dr. Assayas?). São imagens não-processadas guiadas por um desejo do espectador, e portanto o filme todo se constrói como uma narrativa artificial que começa a se interromper continuamente, uma imagem que em Irma Vep existia como desejo de uma personagem (Maggie Cheung vestida como a ladra-título invadindo um apartamento) e que é reencenada de forma ainda mais fetichista aqui como parte do plano narrativo. É este olhar interrompido que tanto incomoda o cineasta, o que torna a recepção negativa do filme (mesmo na França) ainda mais triste. Já não se vê mais, quando um filme como demonlover é chamado de bobo, de mero pastiche pós-moderno, é acusado de ser uma simples denúncia (ou endosso) das novas mídias ou de ser confuso (será preciso ao cineasta pedir autorização para realizar um filme que opta por fazer sentido apenas no plano conceitual?).

Nessa recepção, o filme lembra muito outro grande relatório do estado das coisas e das imagens: New Rose Hotel (O Enigma do Poder), de Abel Ferrara. São filmes dedicados a captar uma certa fragrância, um certo olhar. Não surpreende, portanto, que sejam filmes com muito em comum, apesar de operarem via metodologia – e sensibilidades – bem diferentes. São ambos contos de vampirismo contemporâneo – o gangster que vê Nosferatu por razão alguma, em O Rei de Nova York, é uma imagem síntese do melhor do cinema dos últimos 15 anos, o que inclui tanto Ferrara como Assayas – em que a drenagem de sangue é substituída por novas formas de violência corporativa. Afinal, não seriam o Harvé de demonlover e a Sandii de New Rose Hotel nossos Nosferatus modernos? Eles circulam por seu mundo como os únicos que compreendem suas estruturas de poder, estando prontos para aceitar por completo suas regras (algo muito desejado por todos na tela, mas não por completo bem sucedidos), isto até o momento em que Harvé dá o seu único passo em falso e age de acordo com os seus desejos. Estes são grandes filmes políticos sobre o poder, sobre as imagens que o projetam, sobre as imagens que o retêm, sobre os movimentos necessários para a sua permanência. E tudo termina com nós de volta ao New Rose Hotel (ou uma espelunca texana), tentando fazer sentido do processo todo que demonlover põe em cena. Somos todos irmãos sobre a mesma angústia, e Ferrara e Assayas seguem empenhados em gerar novas formas para permitir que se abra um intervalo no qual esta angústia possa se expressar.

Filipe Furtado

1. Weil, Simone. Cahiers du Sud, XIX, 230.

2. Uma visão desenvolvida para além dos limites deste artigo sobre esta sensibilidade pop e relação imagem/música pode ser encontrada na carta de Kent Jones para série Movie Mutations, originalmente publicada na Traffic no.24 (Inverno de 97) e disponível no livro Movie Mutations (org. Adrian Martin e Jonathan Rosenbaum; BFI publishing);

3. Ver a entrevista de Daney a Bill Krohn, assim como o artigo de Krohn, "The Tinkerers", ambos disponíveis aqui: http://home.earthlink.net/~steevee/

4. Kaganski, Serge. "Olivier Assayas’s desert of the real", em Film Comment Setembro/Outubro 2003.

 

 




Connie Nielsen em demonlover
(Espionagem na Rede) de Olivier Assayas