Algumas sequências após o início
de Brigada 49,
quando o herói Jack Morrison (Joaquin Phoenix), bombeiro,
flerta com a morte, já há sinais de como as coisas se
darão adiante. Enquanto o protagonista agoniza, à espera
da morte ou de quem o salve, somos informados sobre
ele. A narrativa concentra-se em longos e apressados
flashbacks para nos dar a ver a ascenção do personagem
no corpo de bombeiros e os problemas conjugais decorrentes
de sua vida arriscada. De vez em quando, somos enviados
de volta ao presente, com ele ainda à espera (da morte
ou de salvação).
Para o acidente do presente não desligitimar o passado,
com a obsessão do herói pelos riscos, ouvimos a repetição
de um discurso: em nome da salvação de vidas, o herói
sacrifica a si mesmo e à família. Mulher e filhos tornam-se
segundo plano quando, contrariando a vontade de seus
dependentes, ele se arrisca cada cada vez mais. A grande
salvação, a dos outros incêndios, prevalece sobre a
proteção familiar. Para os roteiristas, não basta mostrar
a grandeza humana e cívica do “ser bombeiro”. Será necessário
nos convencer de que o heroísmo é necessário para a
sociedade, sem com isso mostrar a quase patologia do
sujeito em desafiar a morte. E isso é feito para tornar
mais próxima a experiência do personagem da atividade
dos bombeiros incumbidos de atuar nos destroços do WTC:
Sacrificar-se por grandes causas é a questão aqui.
Não parece haver outra intenção por parte da produção
além da disposição em derreter o coração do espectador
para melhor despejar essa pedagogia do heroísmo. A música
épica-amanteigada logo nos primeiros segundos faz essa
meta gritar em nossos ouvidos. A música também é empregada
para compensar a fragilidade das imagens no estabelecimento
da tensão (algo sabotado pela estrutura cronológica:
início já pelo suposto climax e conflitos brandos no
passado). Em um número significativo de cenas, o diretor
Jay Russell, candidato ao eterno anonimato entre os
amantes críticos de cinema, não sabe onde colocar a
câmera. Ele usa a grua aparentemente porque tem uma
à mão e, talvez ciente de que não há um filme no roteiro
(culpa de Lewis Collick), passa a multiplicar planos
sem “necessidade” ou objetivo.
A acumulação de situações, sem nos dar algo para se
extrair delas, é acentuada pelas sequências em que,
para amenizar o inferno em chamas da atividade profissional
do herói, mostram o lazer dos colegas bombeiros: há
várias passagens com imagens de reunião em churrasco,
casamentos, pubs, assim como de brincadeiras entre os
colegas no ambiente de trabalho. Mas essas cenas de
um cotidiano quase idílico não passam de golpe baixo
para ampliar a gravidade dramática do acidente exibido
logo no início. Não ampliam. Brigada 49 é ducha
de água fria na tentativa de pôr fogo na história. Não
chega nem a ser faísca.
Cléber Eduardo
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