BRIGADA 49
Jay Russell, Ladder 49, EUA, 2004

Algumas sequências após o início de Brigada 49, quando o herói Jack Morrison (Joaquin Phoenix), bombeiro, flerta com a morte, já há sinais de como as coisas se darão adiante. Enquanto o protagonista agoniza, à espera da morte ou de quem o salve, somos informados sobre ele. A narrativa concentra-se em longos e apressados flashbacks para nos dar a ver a ascenção do personagem no corpo de bombeiros e os problemas conjugais decorrentes de sua vida arriscada. De vez em quando, somos enviados de volta ao presente, com ele ainda à espera (da morte ou de salvação).

Para o acidente do presente não desligitimar o passado, com a obsessão do herói pelos riscos, ouvimos a repetição de um discurso: em nome da salvação de vidas, o herói sacrifica a si mesmo e à família. Mulher e filhos tornam-se segundo plano quando, contrariando a vontade de seus dependentes, ele se arrisca cada cada vez mais. A grande salvação, a dos outros incêndios, prevalece sobre a proteção familiar. Para os roteiristas, não basta mostrar a grandeza humana e cívica do “ser bombeiro”. Será necessário nos convencer de que o heroísmo é necessário para a sociedade, sem com isso mostrar a quase patologia do sujeito em desafiar a morte. E isso é feito para tornar mais próxima a experiência do personagem da atividade dos bombeiros incumbidos de atuar nos destroços do WTC: Sacrificar-se por grandes causas é a questão aqui. 

Não parece haver outra intenção por parte da produção além da disposição em derreter o coração do espectador para melhor despejar essa pedagogia do heroísmo. A música épica-amanteigada logo nos primeiros segundos faz essa meta gritar em nossos ouvidos. A música também é empregada para compensar a fragilidade das imagens no estabelecimento da tensão (algo sabotado pela estrutura cronológica: início já pelo suposto climax e conflitos brandos no passado). Em um número significativo de cenas, o diretor Jay Russell, candidato ao eterno anonimato entre os amantes críticos de cinema, não sabe onde colocar a câmera. Ele usa a grua aparentemente porque tem uma à mão e, talvez ciente de que não há um filme no roteiro (culpa de Lewis Collick), passa a multiplicar planos sem “necessidade” ou objetivo.

A acumulação de situações, sem nos dar algo para se extrair delas, é acentuada pelas sequências em que, para amenizar o inferno em chamas da atividade profissional do herói, mostram o lazer dos colegas bombeiros: há várias passagens com imagens de reunião em churrasco, casamentos, pubs, assim como de brincadeiras entre os colegas no ambiente de trabalho. Mas essas cenas de um cotidiano quase idílico não passam de golpe baixo para ampliar a gravidade dramática do acidente exibido logo no início. Não ampliam. Brigada 49 é ducha de água fria na tentativa de pôr fogo na história. Não chega nem a ser faísca.

Cléber Eduardo