Lukas Moodysson sai do tom doce
de seus filmes na Suécia para a árida
história de uma adolescente russa abandonada
pela família e destinada a uma vida de miséria
até que descobre a hipótese da prostutição.
Relegada a um inóspito cafofo pela tia malvada,
sem nenhum dinheiro ou amigos a não ser um menino
que se encontra diante dos mesmos problemas que ela
(apanha dos pais, precisa sair de casa), ela tenta uma
virada na vida e acaba sendo transformada a sua revelia
em prostituta e escrava sexual na Suécia. Sobre
En La Puta Vida, espécie de irmão-gêmeo
uruguaio, Para Sempre Lilya leva algumas vantagens.
Inicialmente pela caracterização da personagem
principal, Lilya. Em se tratando de uma adolescente,
seguimos com carinho o desamparo da moça de uma
família pobre que é abandonada pela mãe
(que vai para os Estados Unidos), mesmo que a maneira
como o filme mostre as bruscas mudanças na vida
da menina como uma montanha russa um pouco hilariante
(seqüência por seqüência a mãe
vai embora, a tia lhe apresenta o cafofo onde vai morar
e lhe toma a casa, falta água e comida, a melhor
amiga lhe passa a perna e a faz ser humilhada por todos
os outros jovens do bairro...)
A segunda parte do filme é de longe a mais tocante
e convincente. Tentando reconstruir aos poucos seu mundo
com o que lhe resta, Moodysson prefere privilegiar não
a humilhação que é a iniciação
como prostituta, mas antes a felicidade da menina depois
de conseguir dinheiro para sustentar sozinha a si e
a seu amigo. Nesse momento, a atriz Oksana Akinshina,
bonita e indefesa, cola no coração do
espectador. A fase seguinte do filme quase desabona
a segunda. Na boate, Lilya encontra um jovem sueco bem-sucedido
que quer tirá-la da prostituição
e arranjar-lhe um emprego em seu país, mas para
isso ela deve deixar seu amigo, sob a promessa de vir
buscá-lo depois. Em cima do muro, o filme não
mostra nem o temor da menina pela opção
que faz (afinal, estará tomando a mesma decisão
que sua mãe, antes dela) nem recoloca a personagem
em perspectiva de heroína trágica, que
cede à hybris e prova as conseqüências
dela. Jovem prostituída, sem qualquer documento
de identidade num país desconhecido, sem qualquer
um que lhe ajude (o namorado, conhecemos a história,
"tornou-se" o assistente do chefe de uma funcional
máquina de escravas sexuais). A partir daí
a moça será estuprada, espancada, mas
o filme permanece sempre sem assumir um ponto de vista
subjetivo sobre o assunto (sou uma menina sem capacidade
ainda de decisão, tenham pena de mim) ou objetivo
(tomei minha decisão, escolhi errado, agora entendo
minha mãe). Tentando captar das duas opções
apenas o melhor que elas têm a dar, Para Sempre
Lilya acaba redundando no drama barato, sem real
dedicação a seu personagem ou a uma criação
verossímil de ambiente.
Ruy Gardnier
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