OS ESQUECIDOS
Joseph Ruben, The Forgotten, EUA, 2004

Os Esquecidos tem todos os sinais de que foi um tremendo equívoco: roteiro esburacado e meio ilógico, desenvolvimento primário de certas situações, atores que parecem desinteressados e uma tendência a provocar sustos fáceis que fica no limiar do tolerável. No entanto, e talvez até por uma combinação improvável desses fatores, Os Esquecidos não deixa de ser um interessante trabalho sobre o cinema de terror, e de como os elementos desse gênero podem ser embaralhados transformando o filme em uma outra coisa, bem distante dos padrões a que nos acostumamos. Uma espécie de terror invertido.

Descobrimos, na metade do filme, que se trata de um experimento extraterrestre com mães e pais, cujas crianças foram abduzidas para testar em quanto tempo eles esquecem que seus filhos existiram, sendo necessário o bloqueio mental das pessoas próximas a eles. Assim, quando vemos pela primeira vez como qualquer um que está atrapalhando o experimento pode ser abduzido, passamos o resto do filme com medo de futuras abduções, que se revelam inevitáveis. As pessoas são puxadas para o céu, sumindo da vista em poucos segundos, em um artifício tão estranho quanto corajoso. É preciso coragem para tentar o susto e o medo através desse artifício, e é de se perguntar o porquê desse truque barato funcionar tão bem. Talvez por um trabalho de atmosfera acima da média, talvez pelo interessante uso do som. O fato é que o filme de Joseph Ruben tem essa estranheza como seu maior trunfo. Estranheza que faz com que, ao final, possamos concluir que é o vilão o maior aterrorizado.

Pois se a única mãe que não consegue esquecer o filho desaparecido – apesar de todas as pessoas que a rodeiam terem sido induzidas a crer que ele nunca existiu – é Juliane Moore, as coisas ficam ainda mais interessantes. Ela parece ser a única a representar uma pessoa de carne e osso (e é uma atriz notável), e no final vemos o motivo: ela foi a única que permaneceu incólume à lavagem cerebral dos alienígenas. Tem Ash, o pai que aos poucos, e com muita insistência dela, lembra que tinha uma filha. Mas aí a insipidez se deve à limitação do ator Dominic West. Julianne Moore é outra história. Trata-se de uma atriz capaz de enriquecer qualquer personagem. Sua interpretação tem pontos de contato com o superior Safe, de Todd Haynes, principalmente quando ela não tem noção do que está se passando. Depois, adquire ares heróicos, quando luta para que sua memória seja preservada. Seu amor pelo filho desaparecido é tão forte, que leva o vilão responsável pelo experimento ao desespero. Ele não entende a força do amor de mãe, assim como não sabe o que fazer para que ela esqueça o filho. Ao final, temos pena dele, que é rapidamente abduzido pelos iguais, como pena por seu fracasso. Podemos imaginar o que ele enfrentará em seu planeta distante, preso a uma frustração que lhe será cara, e que ele nunca entenderá exatamente como aconteceu.


Sérgio Alpendre