Os
Esquecidos tem todos os sinais de que foi um tremendo
equívoco: roteiro esburacado e meio ilógico,
desenvolvimento primário de certas situações,
atores que parecem desinteressados e uma tendência
a provocar sustos fáceis que fica no limiar do
tolerável. No entanto, e talvez até por
uma combinação improvável desses
fatores, Os Esquecidos não deixa de ser
um interessante trabalho sobre o cinema de terror, e
de como os elementos desse gênero podem ser embaralhados
transformando o filme em uma outra coisa, bem distante
dos padrões a que nos acostumamos. Uma espécie
de terror invertido.
Descobrimos, na metade do filme, que se trata de um
experimento extraterrestre com mães e pais, cujas
crianças foram abduzidas para testar em quanto
tempo eles esquecem que seus filhos existiram, sendo
necessário o bloqueio mental das pessoas próximas
a eles. Assim, quando vemos pela primeira vez como qualquer
um que está atrapalhando o experimento pode ser
abduzido, passamos o resto do filme com medo de futuras
abduções, que se revelam inevitáveis.
As pessoas são puxadas para o céu, sumindo
da vista em poucos segundos, em um artifício
tão estranho quanto corajoso. É preciso
coragem para tentar o susto e o medo através
desse artifício, e é de se perguntar o
porquê desse truque barato funcionar tão
bem. Talvez por um trabalho de atmosfera acima da média,
talvez pelo interessante uso do som. O fato é
que o filme de Joseph Ruben tem essa estranheza como
seu maior trunfo. Estranheza que faz com que, ao final,
possamos concluir que é o vilão o maior
aterrorizado.
Pois se a única mãe que não consegue
esquecer o filho desaparecido – apesar de todas as pessoas
que a rodeiam terem sido induzidas a crer que ele nunca
existiu – é Juliane Moore, as coisas ficam ainda
mais interessantes. Ela parece ser a única a
representar uma pessoa de carne e osso (e é uma
atriz notável), e no final vemos o motivo: ela
foi a única que permaneceu incólume à
lavagem cerebral dos alienígenas. Tem Ash, o
pai que aos poucos, e com muita insistência dela,
lembra que tinha uma filha. Mas aí a insipidez
se deve à limitação do ator Dominic
West. Julianne Moore é outra história.
Trata-se de uma atriz capaz de enriquecer qualquer personagem.
Sua interpretação tem pontos de contato
com o superior Safe, de Todd Haynes, principalmente
quando ela não tem noção do que
está se passando. Depois, adquire ares heróicos,
quando luta para que sua memória seja preservada.
Seu amor pelo filho desaparecido é tão
forte, que leva o vilão responsável pelo
experimento ao desespero. Ele não entende a força
do amor de mãe, assim como não sabe o
que fazer para que ela esqueça o filho. Ao final,
temos pena dele, que é rapidamente abduzido pelos
iguais, como pena por seu fracasso. Podemos imaginar
o que ele enfrentará em seu planeta distante,
preso a uma frustração que lhe será
cara, e que ele nunca entenderá exatamente como
aconteceu.
Sérgio Alpendre
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