É
de Francis Fukuyama a proposição acerca
do fim da História, que teria terminado com a
queda do Muro de Berlim em 1989, com o fim da União
Soviética e do socialismo real em 1991. Conceito
que, na verdade, se insere na descrença pós-moderna,
segundo Jean-François Lyotard, a respeito dos
discursos racionais e científicos, estruturantes
do pensamento ocidental, que tomam a filosofia para
suas próprias legitimações enquanto
saberes, sobretudo a noção teleológica
da História, herdada da dialética hegeliana-marxista.
Assim, ao invés da História vista como
sistema totalizante, há histórias – vozes
múltiplas, dispersas, estilhaçadas, contraditórias
– que travam permanentes conflitos permanentes entre
si, pois buscam a afirmação de subjetividades
locais e pessoais no jogo macroscópico da superfície
social.
Na primeira parte de Nossa Música, intitulada
Inferno, Jean-Luc Godard denuncia os horrores
da História através de imagens de vídeo
cuja péssima qualidade estoura qualquer possibilidade
de representação (a violência da
imagem não apenas nas informações
que transmite, como também na forma em que as
propaga), para, em contrapartida, seguindo o caminho
de Dante pelo Purgatório e pelo Paraíso,
invocar o poder de resistência das minorias subjugadas
– os palestinos, os índios norte-americanos,
a mulher – por intermédio da imaginação,
da fabulação criadora e auto-fundante.
Já Éric Rohmer e Bernardo Bertolucci,
respectivamente em Agente Triplo e em Os Sonhadores,
utilizam imagens de arquivo a fim de colocar em questão
o impacto dos acontecimentos que convulsionam a sociedade
nos corpos individuais, nas relações afetivas
cotidianas. Porém, enquanto Bertolucci opta pela
colagem pastiche e auto-referente de tais imagens, em
homenagem estéril ao cinema, Rohmer isola-as,
sob a forma de cine-jornais estanques e em aparência
independentes da narrativa, da vida privada do casal
protagonista, cujo amor e cuja devoção
não sobrevivem à História que,
ao atravessar as paredes do apartamento, destrói
em definitivo a ligação entre marido e
esposa.
Paulo Ricardo de Almeida
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