A VOLTA DO GATO
Hiroyuki Morita, Neko no ongaeshi, Japão, 2002

Fruto dos estúdios Ghibli, especializado em animações japonesas geralmente com tons de fábula envolvendo animais e crianças, A Volta do Gato não foge dos padrões das produções de lá. Como um exemplar de cinema visando o público infantil, se é bastante funcional, parece carecer de idéias mais frescas, ainda que tenha momentos muito bons. Tem muito de interesse pela forma com que se conduz o filme, mas nada de excepcional ecoando - ou que ao menos lhe chame uma atenção mais atenta. Nota-se as referências e respeito a um universo que lembra o de Hayao Miyazaki, mesmo que sem o brilho e as idéias do mestre japonês. É uma obra bastante acomodada – não apenas não irá avançar em idéias, como simplesmente parece tranqüilo em relação a sua posição.

Ainda assim, trata-se de um exercício de gênero de bastante interesse, sobretudo por nosso pouco acesso a esse material. As noções morais entre os personagens podem ser pensadas visando um público infantil, mas são um bocado interessantes. Há pelo menos uma cena bastante bonita, com o rei do mundo dos gatos declarando o fim de seu império. Mesmo quando apelativo, o cineasta parece capaz de controlar o que coloca em cena sem que extrapole neste apelo. A construção de um universo particular parece se dar um pouco depressa, parecendo só se fazer mais presente quando a narrativa já está se esgotando. Falta um pouco de calma, no princípio do filme, mas a pressa aparece ainda mais na segunda metade onde a trama ganha tons mais agitados.

Hiroyuki Morita se estabelece então como um artesão de interesse, mas ainda sem muito brilho. Talvez uma possível falta de liberdade do estúdio possa causar parte das ambições curtas, mas aí foge de nossa possibilidade ou mesmo interessa de análise. Mesmo que restrito há um público que tenha algum interesse em animações, não deixa de ser um filme simpático.

Guilherme Martins