A SUPREMACIA BOURNE
Paul Greengrass, The Bourne supremacy, EUA, 2004

Ao que parece, uma incessante demanda do público por filmes de ação com tramas de espionagem e cenários cartão-postal – leia-se principalmente James Bond – parece ser a explicação mais plausível para o sucesso de bilheteria de A Identidade Bourne (2002). Ou seja, na falta de 007 ou Missão: Impossível, consome-se o que a indústria apresentar de mais parecido, mesmo que, como no caso daquele filme muito mal dirigido por Doug Liman, estejamos diante de um produto um tanto tosco e mal acabado para os padrões hollywoodianos.

Só que os homens de estúdio não são bobos. Já que deu dinheiro e a fonte de orígem – os livros de Robert Lundum – não secou, vamos à continuação. Mas, pelo sim, pelo não, troca-se o diretor. E nesse quesito, a escolha do inglês Paul Greengrass para o comando de A Supremacia Bourne parece à primeira vista tão bizarra como a de Liman: assim como seu antecessor, a trajetória prévia de Greengrass sugere pouca afinidade com blockbusters de ação. Greengrass, no entanto, se ainda não conseguiu situar a segunda aventura do desmemoriado agente Jason Bourne entre os melhores exemplares do gênero, dá indiscutivelmente vários passos à frente com relação ao primeiro filme e supera algumas de suas mais evidentes deficiências.

Primeiramente no que se refere ao perfil do protagonista: já que seu interprete, Matt Damon, demonstrou ser no mínimo pouco convincente nas seqüências de ação, em A Supremacia Bourne o personagem-título torna-se menos heróico e confrontador, para ser caracterizado quase todo o tempo como uma espécie de fantasma vingativo que vaga em busca de seu passado. Quase ao fim do filme, na última cena passada em Moscou, Bourne é filmado como um quase monstro de Frankenstein - perdido, desiludido e traído por seu criador. Assim, Greengrass aproveita melhor o ator Damon e também faz algo que Doug Liman não havia conseguido no primeiro filme: dá algum espaço aos bons nomes do elenco de apoio. Se em A Identidade Bourne atores de reconhecido talento como Clive Owen, Chris Cooper e Brian Cox desfilavam pela tela sem ter muito o que fazer, nessa continuação o mesmo Cox e a sempre ótima Joan Allen ganham melhores condições para desenvolver personagens.

Paul Greengrass opta, também, por fazer, exceto em algumas cenas, um filme de ação menos explícita. Tirando as perseguições inicial e final – esta última particularmente interessante - A Supremacia Bourne é um filme de poucos embates e correrias. Como fizera em seu trabalho anterior, Domingo Sangrento, o diretor calca seu trabalho principalmente em uma edição ágil e eficiente, que mesmo abusando demasiado do recurso da montagem paralela, consegue fazê-lo superar (ou ao menos disfarçar) suas possíveis limitações na construção de seqüências mais elaboradas, e também tornar o roteiro rocambolesco um pouco menos confuso. Se não é o bastante para criar um trabalho expressivo, acaba sendo suficiente para fazer de A Supremacia Bourne um entretenimento no mínimo decente.

Gilberto Silva Jr.