Ao que parece, uma incessante
demanda do público por filmes de ação com tramas de
espionagem e cenários cartão-postal – leia-se principalmente
James Bond – parece ser a explicação mais plausível
para o sucesso de bilheteria de A Identidade Bourne (2002). Ou seja, na
falta de 007 ou Missão:
Impossível, consome-se o que a indústria apresentar
de mais parecido, mesmo que, como no caso daquele filme
muito mal dirigido por Doug Liman, estejamos diante
de um produto um tanto tosco e mal acabado para os padrões
hollywoodianos.
Só que os homens de estúdio não são bobos. Já que deu
dinheiro e a fonte de orígem – os livros de Robert Lundum
– não secou, vamos à continuação. Mas, pelo sim, pelo
não, troca-se o diretor. E nesse quesito, a escolha
do inglês Paul Greengrass para o comando de A
Supremacia Bourne parece à primeira vista tão bizarra
como a de Liman: assim como seu antecessor, a trajetória
prévia de Greengrass sugere pouca afinidade com blockbusters de ação. Greengrass, no entanto,
se ainda não conseguiu situar a segunda aventura do
desmemoriado agente Jason Bourne entre os melhores exemplares
do gênero, dá indiscutivelmente vários passos à frente
com relação ao primeiro filme e supera algumas de suas
mais evidentes deficiências.
Primeiramente no que se refere ao perfil do protagonista:
já que seu interprete, Matt Damon, demonstrou ser no
mínimo pouco convincente nas seqüências de ação, em
A Supremacia Bourne o personagem-título
torna-se menos heróico e confrontador, para ser caracterizado
quase todo o tempo como uma espécie de fantasma vingativo
que vaga em busca de seu passado. Quase ao fim do filme,
na última cena passada em Moscou, Bourne é filmado como
um quase monstro de Frankenstein - perdido, desiludido
e traído por seu criador. Assim, Greengrass aproveita
melhor o ator Damon e também faz algo que Doug Liman
não havia conseguido no primeiro filme: dá algum espaço
aos bons nomes do elenco de apoio. Se em A
Identidade Bourne atores de reconhecido talento
como Clive Owen, Chris Cooper e Brian Cox desfilavam
pela tela sem ter muito o que fazer, nessa continuação
o mesmo Cox e a sempre ótima Joan Allen ganham melhores
condições para desenvolver personagens.
Paul Greengrass opta, também, por fazer, exceto em algumas
cenas, um filme de ação menos explícita. Tirando as
perseguições inicial e final – esta última particularmente
interessante - A
Supremacia Bourne é um filme de poucos embates e
correrias. Como fizera em seu trabalho anterior, Domingo
Sangrento, o diretor calca seu trabalho principalmente
em uma edição ágil e eficiente, que mesmo abusando demasiado
do recurso da montagem paralela, consegue fazê-lo superar
(ou ao menos disfarçar) suas possíveis limitações na
construção de seqüências mais elaboradas, e também tornar
o roteiro rocambolesco um pouco menos confuso. Se não
é o bastante para criar um trabalho expressivo, acaba
sendo suficiente para fazer de A
Supremacia Bourne um entretenimento no mínimo decente.
Gilberto Silva Jr.
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