David Mamet, desde que resolveu
se aventurar no oficio de cineasta, vem realizando filmes
que existem muito mais como exercícios. Tentativas
de se aproximar de uma gramática que lhe é
exterior e dominá-la. Nos seus últimos
filmes, esta proposta vinha dado sinais claros de cansaço,
resultando em filmes cada vez mais estéreis.
Spartan é, neste contexto, uma agradável
surpresa, já que revela Mamet depurando sua forma
e conduzindo com elegância mais esta incursão
no cinema de gênero no qual o cineasta se enxerga
como mero visitante.
O título se refere ao protagonista (Val Kilmer)
um soldado de moral e retidão espartanas, mas
também ao esforço do diretor, já
que há uma clara intenção de simbiose
entre a missão de Kilmer e a de Mamet. A intriga
excessivamente elaborada é um dos pontos frágeis
do filme, assim como a tentativa meio frouxa e paranóica
de dar uma dimensão política ao exercício.
Spartan consiste assim uma novidade dentro da
carreira de Mamet: um filme melhor dirigido do que escrito.
Mamet se incumbe da missão simples e a executa
até o final.
Há algo extremamente datado em Spartan,
a sua noção do que seria um filme de gênero
parece ter mais a ver com um cinema americano que acabou
há muito tempo atrás. David Mamet tem
plena consciência disso, Spartan tem até
algum senso de humor com sua própria condição
de filme fora do tempo. Ao lado de um filme de espionagem
high-tech pretensamente sério como Jogo
de Espiões, Spartan se mostra um filme
analógico. Nisso, Mamet não está
tão distante de um cineasta como John Carpenter
- o que o limita, é que se aproxima do seu objeto
a partir de um pronto de partida excessivamente teórico.
Mas, mesmo nisso, Spartan é um avanço
em relação aos filmes anteriores, já
que Mamet criou um protagonista cuja tendência
calculista, pela primeira vez desde Jogo de Emoções,
parece justificada dentro do filme.
Spartan existe como filme compacto. Tudo nele
tende a economia e a miniatura (tirando a já
mencionada tentativa frustrada de dar uma dimensão
mais política à trama). O trabalho de
Mamet é todo voltado para a contenção.
Cria um filme duro e propositalmente frio à imagem
do seu protagonista. O filme ocasionalmente alcança
resultados bem fortes dentro deste jogo (o trabalho
de montagem tem momentos muito bons), mesmo que o todo
resulte mais digno do que memorável. De qualquer
forma, é um avanço dentro de uma carreira
que vinha cada vez mais se mostrando irrelevante.
Filipe Furtado
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