SEM RUMO
Nobuhiro Yamashita, Riarizumi no yado, Japão, 2004

Costurado com um humor delicado e ao mesmo tempo direto, Sem Rumo tem grande parte de seu vigor creditado aos dois tipos bem delineados e à química gestual construída por seus protagonistas: dois jovens cineastas de Tóquio que vêem na possibilidade de trabalhar com um ator renomado, a sua chance de sair de sua paralisia criativa e afetiva (sempre mais insinuada do que descrita). Uma paralisia que permeia o humor de todas as cenas – se inscrevendo na forma dos planos fixos, dos diálogos quase nonsense e dos gestos contidos.

De seu interesse direto pela obra de Jim Jarmush, Yamashita consegue construir algumas belas passagens em que se conjugam (de forma rara) o comentário crítico de um mal-estar geracional, com um sentimento de alegria e brincadeira para com as pequenas mazelas que permeiam o encontro (e o nascimento da amizade) entre esses dois jovens “perdidos”.

Pequena comédia de situações, Sem Rumo se inscreve como uma espécie de road movie sem jornada – onde a idéia da viagem, da busca por um certo lugar-outro, se resolve nas pequenas circunstâncias que mantém seus dois jovens personagens “presos” a uma pequena cidade turística japonesa. Sua narrativa, porém, não alcança qualquer nível mais intenso de pregnância das imagens, e suas passagens mais abertamente poéticas não se sustentam para além da repetição de um certo arsenal pouco inventivo, entre mares abertos e melancolias à beira de mesas de jantar - deixando no ar um certo cheiro de desperdício...

Um cinema não mais do que agradável de se ver (o que talvez não seja mais do que o seu diretor tencionava fazer), Sem Rumo alcança uma rara leveza, que chama atenção pela forma delicada com que desenha o sentimento da falta de rumo de seus personagens, se abstendo de qualquer interesse por sufocá-los ou submetê-los a um filtro de cinismo. Não é muito, decerto. Mas também não é algo muito comum de se ver por aí.

Felipe Bragança