Costurado com um humor delicado
e ao mesmo tempo direto, Sem Rumo tem grande
parte de seu vigor creditado aos dois tipos bem delineados
e à química gestual construída por seus protagonistas:
dois jovens cineastas de Tóquio que vêem na possibilidade
de trabalhar com um ator renomado, a sua chance de sair
de sua paralisia criativa e afetiva (sempre mais insinuada
do que descrita). Uma paralisia que permeia o humor
de todas as cenas – se inscrevendo na forma dos planos
fixos, dos diálogos quase nonsense e dos gestos
contidos.
De seu interesse direto pela obra de Jim Jarmush, Yamashita
consegue construir algumas belas passagens em que se
conjugam (de forma rara) o comentário crítico de um
mal-estar geracional, com um sentimento de alegria e
brincadeira para com as pequenas mazelas que permeiam
o encontro (e o nascimento da amizade) entre esses dois
jovens “perdidos”.
Pequena comédia de situações, Sem Rumo se inscreve
como uma espécie de road movie sem jornada – onde a
idéia da viagem, da busca por um certo lugar-outro,
se resolve nas pequenas circunstâncias que mantém seus
dois jovens personagens “presos” a uma pequena cidade
turística japonesa. Sua narrativa, porém, não alcança
qualquer nível mais intenso de pregnância das imagens,
e suas passagens mais abertamente poéticas não se sustentam
para além da repetição de um certo arsenal pouco inventivo,
entre mares abertos e melancolias à beira de mesas de
jantar - deixando no ar um certo cheiro de desperdício...
Um cinema não mais do que agradável de se ver (o que
talvez não seja mais do que o seu diretor tencionava
fazer), Sem Rumo alcança uma rara leveza, que
chama atenção pela forma delicada com que desenha o
sentimento da falta de rumo de seus personagens, se
abstendo de qualquer interesse por sufocá-los ou submetê-los
a um filtro de cinismo. Não é muito, decerto. Mas também
não é algo muito comum de se ver por aí.
Felipe Bragança
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