PRA QUE SERVE O AMOR SÓ EM PENSAMENTO
Achim von Borries, Was nützt die liebe in Gedanken, Alemanha, 2004

Numa cena de Pra Que Serve o Amor Só em Pensamento, estréia de von Borries no longa-metragem, uma personagem secundária afirma: "O que chamamos de amor nem irá existir daqui a vinte anos." Só que, ao que parece, o cineasta alemão deseja com seu filme provar exatamente o contrário. Partindo de um caso polícial, ocorrido em Berlim em 1927, o roteiro elimina qualquer referência explícita ao peculiar contexto sócio-político da época para justamente demonstrar uma atemporalidade nas emoções de suas personagens, jovens na transição da adolescência para a idade adulta. Arroubos e excessos de pessoas imaturas, que mal conseguem distinguir a natureza de seus sentimentos, igualmente fugazes e intensos, e que, quando em descontrole, podem acabar levando à tragédia, como na história em questão.

O diretor parte dessa premissa, mas não consegue desenvolvê-la a contento. Demonstra padecer da mesma imaturidade de suas personagens, que formam uma ciranda amorosa digna de Drummond. O filme peca por abster-se, exceto em alguns instantes, de uma certa ironia, para, na maior parte do tempo, embarcar num tom de indesejável breguice. Pululam planos de figuras andando por campos floridos, passeios de barco por lagos primaveris ou coisas que o valham. Mas nada supera o momento em que um revólver é desenterrado da areia, ao som de uma música excessivamente dramática, antecipando o clímax que está por vir.

Os únicos momentos de Pra Que Serve o Amor Só em Pensamento que acabam valendo um pouco a pena estão em algumas seqüências passadas na festa, que domina o segundo terço do filme. São nestes onde von Borries consegue esboçar sua tese, numa situação modelo: pais ausentes, casa vazia, amigos, música, bebida e sexo. A necessária ironia consegue, então, por vezes se fazer presente. Em especial quando um convidado ensaia uma espécie de "scratch" enquanto toca discos em uma primitiva vitrola. Mas mesmo esses momentos irônicos são alternados pela já destacada breguice, como quando chega à festa um sujeito mais velho, com um bigodinho que ressalta sua figura como "sinistra" e que serve aos jovens absinto. Para complicar, a conclusão do filme ainda sugere um certo clima de moralismo, que acaba praticamente pondo a perder o pouco que houvera de positivo durante a projeção.

Gilberto Silva Jr.