Numa cena de Pra Que Serve
o Amor Só em Pensamento, estréia de
von Borries no longa-metragem, uma personagem secundária
afirma: "O que chamamos de amor nem irá existir
daqui a vinte anos." Só que, ao que parece, o
cineasta alemão deseja com seu filme provar exatamente
o contrário. Partindo de um caso polícial,
ocorrido em Berlim em 1927, o roteiro elimina qualquer
referência explícita ao peculiar contexto
sócio-político da época para justamente
demonstrar uma atemporalidade nas emoções
de suas personagens, jovens na transição
da adolescência para a idade adulta. Arroubos
e excessos de pessoas imaturas, que mal conseguem distinguir
a natureza de seus sentimentos, igualmente fugazes e
intensos, e que, quando em descontrole, podem acabar
levando à tragédia, como na história
em questão.
O diretor parte dessa premissa, mas não consegue
desenvolvê-la a contento. Demonstra padecer da
mesma imaturidade de suas personagens, que formam uma
ciranda amorosa digna de Drummond. O filme peca por
abster-se, exceto em alguns instantes, de uma certa
ironia, para, na maior parte do tempo, embarcar num
tom de indesejável breguice. Pululam planos de
figuras andando por campos floridos, passeios de barco
por lagos primaveris ou coisas que o valham. Mas nada
supera o momento em que um revólver é
desenterrado da areia, ao som de uma música excessivamente
dramática, antecipando o clímax que está
por vir.
Os únicos momentos de Pra Que Serve o Amor
Só em Pensamento que acabam valendo um pouco
a pena estão em algumas seqüências
passadas na festa, que domina o segundo terço
do filme. São nestes onde von Borries consegue
esboçar sua tese, numa situação
modelo: pais ausentes, casa vazia, amigos, música,
bebida e sexo. A necessária ironia consegue,
então, por vezes se fazer presente. Em especial
quando um convidado ensaia uma espécie de "scratch"
enquanto toca discos em uma primitiva vitrola. Mas mesmo
esses momentos irônicos são alternados
pela já destacada breguice, como quando chega
à festa um sujeito mais velho, com um bigodinho
que ressalta sua figura como "sinistra" e que serve
aos jovens absinto. Para complicar, a conclusão
do filme ainda sugere um certo clima de moralismo, que
acaba praticamente pondo a perder o pouco que houvera
de positivo durante a projeção.
Gilberto Silva Jr.
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