Planos gerais de uma metrópole
qualquer: a multidão anônima transita pelas
ruas completamente desorientada e sem rumo. Surge em
off a voz da diretora-narradora relatando a história
de Buda e o inicio da propagação de sua
doutrina. Será o budismo a chave para solucionar
os grandes dilemas do homem moderno? Após esses
planos iniciais, temos como seqüência final
da introdução uma série de imagens
captadas em super 8 onde ao mesmo tempo que presenciamos
cenas da infância da realizadora, ouvimos a sua
voz relatando sua predestinação. Algo
misterioso conectaria sua vida à do monge-cineasta
Khyenste Norbu, ou pelo menos é isso que o discurso
do filme procura nos propor. Somos apresentados então
aos dois personagens centrais: a realizadora (que se
encontrou no Budismo e que agora está a procura
de um mestre adequado) e ao mestre Norbu.
A trajetória da localização e do
encontro com o monge serve de pretexto para se esboçar
um pseudo e frágil tratado sobre o caos do mundo
contemporâneo. Os pensamentos de Patten e de seu
companheiro parecem terem sido extraídos do pior
que existe da literatura de auto-ajuda: manejando um
discurso simplista e superficial os realizadores procuram
nos mostrar que vivemos em um mundo hedonista e artificial
onde imperam os desejos mais mundanos e descartáveis.
Para ilustrar essa concepção (que, convenhamos,
já existia muito antes da realizadora pegar a
câmera) convida-se Norbu para assistir a uma partida
de futebol da Inglaterra contra a Alemanha. Temos a
utilização de uma figura tida como especial
e iluminada, possuidora de uma concepção
de mundo totalmente adversa e em choque com o mundo
vigente apenas para ser o anunciador de seu absurdo.
O monge vê os torcedores bêbados e os comparam
aos freqüentadores de boates, seres que segundo
ele escolheram o consumo dos desejos como a meta principal
de suas vidas. Onde está a renúncia? Onde
está o sacrifício? Sem essas ferramentas
será impossível encontrar a transcendência
e a paz de espírito.
Norbu é transformado então no guia turístico
responsável por nos indicar os espaços
(o estádio de futebol foi o primeiro) onde são
visíveis as imperfeições desse
mundo para assim podermos consertá-lo. Em outro
momento, o companheiro e fiel escudeiro de Patten relata
que toda ação do homem por mais banal
que possa parecer carrega em sua essência a busca
pela felicidade. È por causa dessa incansável
busca que ele abre a geladeira de madrugada atrás
de alimentos que sacie a sua não-fome. Todos
os prazeres externos não passam de meras ilusões
que escondem o fato incontestável que a felicidade
do homem não pode estar em outro lugar além
de dentro dele mesmo.
Boa parte do filme se centra na discussão de
como deve ser a relação entre o aprendiz
e o seu mestre. O aprendiz deve desafiar o mestre? Como
saber se o seu mestre é ou não é
um impostor? Intercalando depoimentos de um jovem que
recusou o seu destino de ser um professor budista com
os do ator Steven Segal essa problemática torna-se
ainda mais polêmica. É curioso perceber
que o tema da busca de um guru ideal e perfeito ganha
um espaço inacreditável tornando-se superior
na escala de importância até mesmo ao próprio
Norbu. Na verdade, estamos diante de um manual que ensina
a escolher gurus e que atesta com todas as suas forças
a urgência de se ter um. Para completar todas
as pieguices que esse "manual" parece não
querer abrir mão, somos obrigados a ouvir, em
diversas situações, músicas que
comentam através de suas letras idéias
que o filme já repetiu a exaustão. Se,
afinal, uma das mais eficientes estratégias de
persuasão é a repetição,
nem exercendo essa prática Palavras do meu
mestre consegue ter êxito.
Estevão Garcia
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