Trevor Reznik (Christian Bale)
opera maquinário pesado. Sem dormir há
um ano, emagrece a olhos vistos, ao mesmo tempo em que
se envolve com a prostituta interpretada por Jennifer
Jason Leigh. Sua única fuga deste pesadelo kafkiano
é a lanchonete do aeroporto, onde trava amizade
com Marie (Aitana Sanchez-Gijón), com quem, em
companhia do filho dela, o protagonista chega a formar
uma família durante breves instantes. A entrada
em cena de homem misterioso, que o persegue e parece
não existir para os demais, leva Trevor à
paranóia e à loucura progressivamente.
Para acompanhar a trama rocambolesca, que depende de
inúmeras e incontáveis reviravoltas no
roteiro (primor de diálogos desinteressantes
e de seqüências de ação enfadonhas),
Brad Anderson embala O Operário com visual
afetado, o qual emula todos os clichês vigentes
em filmes supostamente tétricos e sombrios –
fotografia escura e cinzenta, excesso de closes up (em
cinemascope), imagens granuladas, cenas cuja decupagem
frenética impede que o espectador perceba o que
se passa na tela.
Sábia decisão de Brad Anderson em adotar
a estética do "ver depressa", já
que O Operário se perde (ou, antes, jamais
chega a se encontrar) em aparente surrealismo lynchiano
– personagens estranhos, que somem e aparecem, para
se revelarem o mesmo –, devidamente amarrado e explicado
pelo diretor através do trauma psicológico
sofrido pelo herói no passado, a fim de que os
signos espalhados pelo diretor ao longo do filme – pistas
para o público desvendar o mistério de
Trevor Reznik – encaixem-se ao final.
Com O Operário, a despeito da mensagem
edificante a favor da segurança no trânsito,
o cineasta consegue redimir – e santificar – o protagonista,
esquecendo-se, para tanto, dos crimes por ele cometidos.
Paulo Ricardo de Almeida
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