Só faltava o anão...
De maneirismos histéricos o cinema brasileiro
não anda precisado, mas o que impressiona nesse
Nina, é a forma com que um amplo arsenal
de clichês da linguagem audiovisual é articulado
de maneira especialmente gratuita, sem sequer alcançar
o discurso pop/grandiloqüente - comum a essa linhagem
de cinema mais identificado com a produção
publicitária brasileira. Nem de niilismo vive
o filme de Heitor Dhalia, já que niilistas encontram
verdade, ao menos, em sua descrença.
Nina é um liquidificador de clichês
de um certo pessimismo-fashion contemporâneo,
através de uma apropriação quase
criminosa (com trocadilho) da base narrativa do Crime
e Castigo de Dostoievski. Toda a mazela possível
da vida urbana paulistana é acumulada em um redemoinho,
que nunca se decide entre o solipsismo de uma personagem
perturbada e/ou um retrato geracional negativista. Os
quadrinhos de Lorenzo Mutarelli (com seu habilidoso
trabalho de claros e escuros) são utilizados
no filme apenas como mais um desses signos fáceis
da obscuridade, que ainda acumulam as interpretações
carregadas de Myrian Muniz e Guta Stresser. A jovem
protagonista, aliás, surpreende com um gestual
equivocado e de cargas pesadas, longe do talento que
sempre demonstrou.
É certo que o roteiro, verdade, não a
ajuda em nada: traçando um apinhado de movimentos
que se localizam entre um sub-Fonseca e um sub-Marçal
Aquino (co-roteirista do filme), sem conseguir construir
qualquer tipo de discurso senão o da celebração
vazia de um sadismo coletivo. Muito menos (nem de longe),
dialogar com o original russo (e aqui não estou
falando de fidelidade narrativa, mas de diálogo
estético).
Seguem-se noventa minutos de sofrimentos, tristezas
vagas, maldades gratuitas, close-ups agressivos, olhos
esbugalhados e vozes rascantes que parecem não
ter mais nada a dizer a não ser provocar sensações
passageiras de asco no espectador. Idosos, jovens, pistas
de dança, prostitutas, um cego e até um
anão (claro que não ia faltar um anão!)
são todos enquadrados de maneira violenta e pornográfica,
com extremo desprezo, e submetidos como signos do bizarro
e do desconforto.
Um filme que não se realiza, que não se
conjuga. Imagens rebuscadas, coladas em seqüência,
não fazem cinema. Porque elas rebuscam e rebuscam...mas
não buscam nada.
Felipe Bragança
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