NINA
Heitor Dhalia, Brasil, 2004

Só faltava o anão...

De maneirismos histéricos o cinema brasileiro não anda precisado, mas o que impressiona nesse Nina, é a forma com que um amplo arsenal de clichês da linguagem audiovisual é articulado de maneira especialmente gratuita, sem sequer alcançar o discurso pop/grandiloqüente - comum a essa linhagem de cinema mais identificado com a produção publicitária brasileira. Nem de niilismo vive o filme de Heitor Dhalia, já que niilistas encontram verdade, ao menos, em sua descrença.

Nina é um liquidificador de clichês de um certo pessimismo-fashion contemporâneo, através de uma apropriação quase criminosa (com trocadilho) da base narrativa do Crime e Castigo de Dostoievski. Toda a mazela possível da vida urbana paulistana é acumulada em um redemoinho, que nunca se decide entre o solipsismo de uma personagem perturbada e/ou um retrato geracional negativista. Os quadrinhos de Lorenzo Mutarelli (com seu habilidoso trabalho de claros e escuros) são utilizados no filme apenas como mais um desses signos fáceis da obscuridade, que ainda acumulam as interpretações carregadas de Myrian Muniz e Guta Stresser. A jovem protagonista, aliás, surpreende com um gestual equivocado e de cargas pesadas, longe do talento que sempre demonstrou.

É certo que o roteiro, verdade, não a ajuda em nada: traçando um apinhado de movimentos que se localizam entre um sub-Fonseca e um sub-Marçal Aquino (co-roteirista do filme), sem conseguir construir qualquer tipo de discurso senão o da celebração vazia de um sadismo coletivo. Muito menos (nem de longe), dialogar com o original russo (e aqui não estou falando de fidelidade narrativa, mas de diálogo estético).

Seguem-se noventa minutos de sofrimentos, tristezas vagas, maldades gratuitas, close-ups agressivos, olhos esbugalhados e vozes rascantes que parecem não ter mais nada a dizer a não ser provocar sensações passageiras de asco no espectador. Idosos, jovens, pistas de dança, prostitutas, um cego e até um anão (claro que não ia faltar um anão!) são todos enquadrados de maneira violenta e pornográfica, com extremo desprezo, e submetidos como signos do bizarro e do desconforto.

Um filme que não se realiza, que não se conjuga. Imagens rebuscadas, coladas em seqüência, não fazem cinema. Porque elas rebuscam e rebuscam...mas não buscam nada.

Felipe Bragança