A proposta era interessante.
Os personagens também. O filme? Parece que ainda
não foi feito. Morte Densa é o
típico caso de filme de não-ficção
que parece que parou na etapa da pesquisa, ou seja:
os diretores foram lá, investigaram um tema,
entrevistaram potenciais personagens e depois... Bem,
depois não se sabia muito claramente o que se
fazer com o material.
Não que os diretores não tenham tentado,
pelo contrário. Há uma tentativa, sim,
de amarrar os depoimentos, mas com o uso fora-de-tom
de imagens gritantemente poéticas e uma trilha
sonora lânguida (Nick Cave) que parece buscar
ainda mais intensidade no que já seria, por si
só, intenso. Buscando uma densidade para a montagem
de imagens que não se faz (nem de longe) suficiente
para agüentar o tranco e servir de palco firme
para o desfile de seus personagens.
É de interesse inegável a forma como o
filme se aproxima do ato do assassinato buscando se
desviar das explicações sociologicamente
comportadas, se deixando levar pela narratividade das
falas de seus entrevistados (todos presos pelo assassinato
de algum ente querido). Mas esse interesse, formalmente
traduzido numa seqüência austera de entrevistas
sobre fundo preto, parece às vezes ainda não
saber de que forma poderia se transformar em filme.
Em cinema.
As vozes parecem por vezes sufocadas nas imagens, entrecortadas
por algumas sugestões de cenários onde
teriam ocorrido os eventos narrados, onde se nota uma
incômoda reiteração de ambientes
familiares de baixa classe média que parece querer
desenhar o que seria mais vivo na imaginação
justamente se não desenhado. Além disso,
fica ainda uma questão: pessoas ricas não
matam seus familiares?
Pode parecer uma pergunta meramente moralista, mas em
um filme que parece tentar se levar como uma aproximação
existencialista do gesto e do sentimento carregado por
aqueles que já mataram alguém próximo,
fica perdida essa tentativa vaga de localização
sócio-geográfica de seus personagens mostrando
casas de tijolos à mostra e ruas da periferia.
Ou ao menos é precária a forma com que
o filme tenta compartilhar esse recorte sócio-antropológico
com o espectador (o contra-plongé de uma mesa
de almoço com arroz, farofa e pratos sujos, é
constrangedor).
Austeridade por austeridade apenas (os depoimentos),
a parte telejornalística do filme funciona, impressiona
e faz pensar, sim. É pena é que o resto
filme não esteja à altura de seus "atores-narradores".
Felipe Bragança
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