A JORNADA DE JAMES PARA JERUSALÉM
Ra'anan Alexandrowicz, James' Journey to Jerusalem, Israel, 2003

De saída, um ponto a favor de Jornada de James...: revela uma realidade pouquíssimo vista e discutida (e não só no cinema), a dos imigrantes negros africanos em Israel - tema sempre obscurecido por toda a questão palestina quando se vai falar do país. De início o filme propõe uma visão um tanto folclórica desta história, pela apresentação com um cântico tribal que acompanha painéis de uma certa pintura naif. Nem que fosse por estes dois elementos, o filme prometia.

Prometia, mas não cumpre muito, infelizmente. Porque uma vez que James está em Israel, tem início tão somente mais uma narrativa de tons realistas sobre um imigrante num país estrangeiro (e aí, faz até pouca diferença que seja um negro ou Israel). Acima de tudo, cria-se uma storyline um tanto capenga e mal desenvolvida sobre a relação de James com o pai de seu “patrão” (senhor de escravos estaria mais correto), que desemboca na transformação (absolutamente brusca) do antes puro James em um tipo de capataz, de braço-direito do patrão. Claro, no fundo esta opção reforça o tom de odisséia moral, de conto a ser passado como fábula em volta das fogueiras tribais, como o filme se apresenta. Mas não dá para fingir que um conceito como este consegue sustentar por muito tempo uma encenação um tanto óbvia, um tanto preguiçosa, que se desenvolve pela próxima hora de filme - filmada num digital de extremo desleixo visual e de mise-en-scène. Jornada de James acaba se revelando, então, um certo desperdício de tema e de um ambiente que poderiam perfeitamente nos interessar se aproximados de forma mais cuidadosa e/ou ambiciosa.

Eduardo Valente