De saída, um ponto a favor de
Jornada de James...: revela uma realidade pouquíssimo
vista e discutida (e não só no cinema), a dos imigrantes
negros africanos em Israel - tema sempre obscurecido
por toda a questão palestina quando se vai falar do
país. De início o filme propõe uma visão um tanto folclórica
desta história, pela apresentação com um cântico tribal
que acompanha painéis de uma certa pintura naif.
Nem que fosse por estes dois elementos, o filme prometia.
Prometia, mas não cumpre muito, infelizmente. Porque
uma vez que James está em Israel, tem início tão somente
mais uma narrativa de tons realistas sobre um imigrante
num país estrangeiro (e aí, faz até pouca diferença
que seja um negro ou Israel). Acima de tudo, cria-se
uma storyline um tanto capenga e mal desenvolvida
sobre a relação de James com o pai de seu “patrão” (senhor
de escravos estaria mais correto), que desemboca na
transformação (absolutamente brusca) do antes puro James
em um tipo de capataz, de braço-direito do patrão. Claro,
no fundo esta opção reforça o tom de odisséia moral,
de conto a ser passado como fábula em volta das fogueiras
tribais, como o filme se apresenta. Mas não dá para
fingir que um conceito como este consegue sustentar
por muito tempo uma encenação um tanto óbvia, um tanto
preguiçosa, que se desenvolve pela próxima hora de filme
- filmada num digital de extremo desleixo visual e de
mise-en-scène. Jornada de James acaba
se revelando, então, um certo desperdício de tema e
de um ambiente que poderiam perfeitamente nos interessar
se aproximados de forma mais cuidadosa e/ou ambiciosa.
Eduardo Valente
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