Fraco arsenal de clichês
poéticos, procura imprimir beleza gritante a
fotogramas desinteressados. O que, por fim, se sintetiza
numa espiritualidade de prateleira onde as artes marciais
e os corpos humanos são transformados em espécies
de fantasmas sem peso, sem tato, sem carne – em outras
palavras: sem vida.
O espírito em Zhang não pesa, é
rarefeito. Como frágil é sua habilidade
em construir ritmo para os movimentos dos corpos que
filma. Não há conexão entre organismo
e natureza, entre gesto e gravidade – Zhang fez um filme
de artes marciais através de uma poética
vaga do intangível, com mensagens claramente
arquitetadas para uma apreensão intelectualmente
rala de princípios morais e uma emulação
pobre do potencial de gênero que o cinema de kung-fu
lhe entregava de bandeja. Zhang filma tudo com uma câmera
lânguida e uma montagem que se propõe a
fazer um cinema interessado apenas em um deleite para
os olhos, mas que esquece o corpo de quem vê:
nada vibra na tela, e nem mesmo as cores berrantes o
podem negar. Nada nos movimenta na cadeira, fazendo
o filme se desenrolar em pomposa monotonia.
Cinema para a admiração, e não
para os sentidos, Herói aposta numa cenografia
de alegorias carnavalescas (e num jogo de metáforas
burocráticas para com a formação
do nacionalismo chinês) para vestir o capuz de
"obra de arte". Desejando ultrapassar os artifícios
do gênero em que se inspira, sem sequer ter tido
a capacidade de alcançá-lo.
Só resta ao espectador (repetindo o imperador
de Qin) dizer, sem meias palavras (a este cinema de
biombos coloridos): "Você só subestimou
uma pessoa, sr. Zhang (...) Eu!"
Felipe Bragança
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