HERÓI
Zhang Yimou, Ying xiong, China, 2002

Fraco arsenal de clichês poéticos, procura imprimir beleza gritante a fotogramas desinteressados. O que, por fim, se sintetiza numa espiritualidade de prateleira onde as artes marciais e os corpos humanos são transformados em espécies de fantasmas sem peso, sem tato, sem carne – em outras palavras: sem vida.

O espírito em Zhang não pesa, é rarefeito. Como frágil é sua habilidade em construir ritmo para os movimentos dos corpos que filma. Não há conexão entre organismo e natureza, entre gesto e gravidade – Zhang fez um filme de artes marciais através de uma poética vaga do intangível, com mensagens claramente arquitetadas para uma apreensão intelectualmente rala de princípios morais e uma emulação pobre do potencial de gênero que o cinema de kung-fu lhe entregava de bandeja. Zhang filma tudo com uma câmera lânguida e uma montagem que se propõe a fazer um cinema interessado apenas em um deleite para os olhos, mas que esquece o corpo de quem vê: nada vibra na tela, e nem mesmo as cores berrantes o podem negar. Nada nos movimenta na cadeira, fazendo o filme se desenrolar em pomposa monotonia.

Cinema para a admiração, e não para os sentidos, Herói aposta numa cenografia de alegorias carnavalescas (e num jogo de metáforas burocráticas para com a formação do nacionalismo chinês) para vestir o capuz de "obra de arte". Desejando ultrapassar os artifícios do gênero em que se inspira, sem sequer ter tido a capacidade de alcançá-lo.

Só resta ao espectador (repetindo o imperador de Qin) dizer, sem meias palavras (a este cinema de biombos coloridos): "Você só subestimou uma pessoa, sr. Zhang (...) Eu!"

Felipe Bragança