Falo! é um filme
pornográfico. Ponto. Continuativo. Ao mesmo tempo
em que é assombrado pelo fantasma do cinema utilitário
(aquele feito para...) e dos tipos que mais funcionais
se tornou (com a produção mundial em vasta
quantidade de peças praticamente iguais, em vídeo
e com baixa qualidade técnica), o trabalho de
Tinto Brass continua sendo uma espécie de chanchada
hardcore. O elemento mais forte de seu cinema
é sua ironia para com o sexo. Em vez de trabalhá-lo
de forma olímpica (embora neste filme, como o
título sugere, haja uma dimensão olímpica
nos tamanhos dos membros) ou de forma grotesca, ele
desconstrói cenas tradicionais de pornografia.
Timidamente no começo (Álibi, a
primeira história do filme - dividido em seis
- mais parece um piada de mulher loura), mas com uma
semiologia mais rica no final.
Aliás, é de semiologia que se trata. O
jogo de palavras do título, com o verbo "fazer"
em italiano e ao mesmo tempo com a referência
fálica, dá bem a dimensão da história:
é um filme sobre o poder fazer. Nesse sentido,
e isso fica patente nas histórias, é um
filme sobre o poder do homem ao se inserir em uma relação
sexual. Em português, ganha ainda uma dimensão
curiosa a possibilidade do segundo jogo de palavras
com o falar, mas esta obviamente não foi intencional.
O que se pode falar, entretanto, é dessa relação
entre homens e mulheres: todas as histórias envolvem
negociação, um (ou mais de um) homem que
quer e uma (ou mais de uma) mulher que precisa ser convencida
ou que finge que não quer participar do evento
erótico. Brass faz do filme uma espécie
de laboratório, um setting de condições
isoladas da moralidade externa (embora ela esteja presente
na forma de incentivo, na verdade) e de outras problemáticas
físicas e psicanalíticas. O sexo, para
ele, é apenas uma fonte imediata de prazer, algo
que se faz e ponto. Final.
No limite, entretanto, é um filme problemático.
Brass absteve-se desta vez de um grande investimento
no trabalho pictórico tão marcante em
seus filmes. Assim, o que era celebração
do belo pela imagem em vários de seus trabalho
(particularmente em Senso 45), desta vez ficou
apenas uma marca de legitimação ("Ele
faz um filme pornográfico, mas filma em película,
usa travelling etc"). Fez um filme discreto
(quer dizer, tão discreto quanto um filme aberto
por uma história que envolve dupla penetração
de uma mulher européia por seu marido e por um
marroquino pode ser) e nisso perdeu energia. Mas não
é um filme a ser ignorado.
Alexandre Werneck
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