FALO!
Tinto Brass, Fallo!, Itália, 2003

Falo! é um filme pornográfico. Ponto. Continuativo. Ao mesmo tempo em que é assombrado pelo fantasma do cinema utilitário (aquele feito para...) e dos tipos que mais funcionais se tornou (com a produção mundial em vasta quantidade de peças praticamente iguais, em vídeo e com baixa qualidade técnica), o trabalho de Tinto Brass continua sendo uma espécie de chanchada hardcore. O elemento mais forte de seu cinema é sua ironia para com o sexo. Em vez de trabalhá-lo de forma olímpica (embora neste filme, como o título sugere, haja uma dimensão olímpica nos tamanhos dos membros) ou de forma grotesca, ele desconstrói cenas tradicionais de pornografia. Timidamente no começo (Álibi, a primeira história do filme - dividido em seis - mais parece um piada de mulher loura), mas com uma semiologia mais rica no final.

Aliás, é de semiologia que se trata. O jogo de palavras do título, com o verbo "fazer" em italiano e ao mesmo tempo com a referência fálica, dá bem a dimensão da história: é um filme sobre o poder fazer. Nesse sentido, e isso fica patente nas histórias, é um filme sobre o poder do homem ao se inserir em uma relação sexual. Em português, ganha ainda uma dimensão curiosa a possibilidade do segundo jogo de palavras com o falar, mas esta obviamente não foi intencional. O que se pode falar, entretanto, é dessa relação entre homens e mulheres: todas as histórias envolvem negociação, um (ou mais de um) homem que quer e uma (ou mais de uma) mulher que precisa ser convencida ou que finge que não quer participar do evento erótico. Brass faz do filme uma espécie de laboratório, um setting de condições isoladas da moralidade externa (embora ela esteja presente na forma de incentivo, na verdade) e de outras problemáticas físicas e psicanalíticas. O sexo, para ele, é apenas uma fonte imediata de prazer, algo que se faz e ponto. Final.

No limite, entretanto, é um filme problemático. Brass absteve-se desta vez de um grande investimento no trabalho pictórico tão marcante em seus filmes. Assim, o que era celebração do belo pela imagem em vários de seus trabalho (particularmente em Senso 45), desta vez ficou apenas uma marca de legitimação ("Ele faz um filme pornográfico, mas filma em película, usa travelling etc"). Fez um filme discreto (quer dizer, tão discreto quanto um filme aberto por uma história que envolve dupla penetração de uma mulher européia por seu marido e por um marroquino pode ser) e nisso perdeu energia. Mas não é um filme a ser ignorado.

Alexandre Werneck