ESTRELA DO NORTE
Felix Randau, Northern star, Alemanha, 2003

Em Nordesthern Star, há um esforço permanente para se expressar, nas imagens, no som/música e na dinâmica de encadeamento dos planos, a subjetividade da protagonista. De quem falamos? De maneira geral, de uma pós-adolescente deslocada em seu universo social (uma pequena cidade alemã): rebelde, sem a menor disposição em fazer diplomacia com a mãe. É o estado de espírito dessa jovem que será expresso em estética. Vemos assim imagens granuladas, muitas cenas em silêncios, outras aglutinadas como clipes, resumo de ações sem muita significação para além delas mesmo, com música ao fundo para dar o clima down-cool.

Todas as cenas apresentadas mostrarão como a única possibilidade dessa jovem não ser asfixiada por seu meio nem dar murros em ponta de faca, não tornar-se fruto podre e garota problema, ameaçadora da instabilidade social buscada pelas aparências em público, é romper fisicamente com esse meio e com esses códigos, para aventurar-se ao mar (justamente o lugar onde seu pai se matou – suicídio testemunhado por ela na infância). A desterritorialização e o deslocamento são seu único passe para o livre estar no mundo. Qualquer saída, portanto, terá de ser pela ruptura - solução essa muito em voga atualmente, a começar por uma leva de filmes brasileiros, paulistas em especial, os quais podemos definir como “distópicos”, sempre concluídos com a distenção protagonista-ambiente (Um Céu de Estrelas, O Invasor, Bicho de 7 Cabeças, Latitude Zero).

Se tenta transmitir pelo áudio e pelo visual a angústia de sua protagonista, o filme também encolhe o potencial de sua aparente proposta, pois, em alguns diálogos e em um flash-back inicial (num preto-e-branco de convenção), busca-se “cartazes-bulas psicológicas” para a singularidade da personagem. A expressão pelo estilo, assim, vem acompanhada de manual. E isso não significa que, sem o manual, o estilo se sustentaria: a noção (ou falta dela) de composição das cenas, a ausência de opções vitalizantes de enquadramentos e cortes, assim como de uma proposta de ritmo das cenas e da ligação entre elas, fazem do conjunto um narrativa muito anêmica. Ao contrário dos distópicos daqui, potentes cada um à sua maneira no tratamento da distopia, o diretor Feliz Randau é só, na falta de termo melhor, “borocoxô”.

Cléber Eduardo