Em Nordesthern Star, há um esforço permanente para se expressar, nas
imagens, no som/música e na dinâmica de encadeamento
dos planos, a subjetividade da protagonista. De quem
falamos? De maneira geral, de uma pós-adolescente deslocada
em seu universo social (uma pequena cidade alemã): rebelde,
sem a menor disposição em fazer diplomacia com a mãe.
É o estado de espírito dessa jovem que será expresso
em estética. Vemos assim imagens granuladas, muitas
cenas em silêncios, outras aglutinadas como clipes,
resumo de ações sem muita significação para além delas
mesmo, com música ao fundo para dar o clima down-cool.
Todas as cenas apresentadas mostrarão como a única possibilidade
dessa jovem não ser asfixiada por seu meio nem dar murros
em ponta de faca, não tornar-se fruto podre e garota
problema, ameaçadora da instabilidade social buscada
pelas aparências em público, é romper fisicamente com
esse meio e com esses códigos, para aventurar-se ao
mar (justamente o lugar onde seu pai se matou – suicídio
testemunhado por ela na infância). A desterritorialização
e o deslocamento são seu único passe para o livre estar
no mundo. Qualquer saída, portanto, terá de ser pela
ruptura - solução essa muito em voga atualmente, a começar
por uma leva de filmes brasileiros, paulistas em especial,
os quais podemos definir como “distópicos”, sempre concluídos
com a distenção protagonista-ambiente (Um
Céu de Estrelas, O
Invasor, Bicho de 7 Cabeças, Latitude Zero).
Se tenta transmitir pelo áudio e pelo visual a angústia
de sua protagonista, o filme também encolhe o potencial
de sua aparente proposta, pois, em alguns diálogos e
em um flash-back inicial (num preto-e-branco de convenção),
busca-se “cartazes-bulas psicológicas” para a singularidade
da personagem. A expressão pelo estilo, assim, vem acompanhada
de manual. E isso não significa que, sem o manual, o
estilo se sustentaria: a noção (ou falta dela) de composição
das cenas, a ausência de opções vitalizantes de enquadramentos
e cortes, assim como de uma proposta de ritmo das cenas
e da ligação entre elas, fazem do conjunto um narrativa
muito anêmica. Ao contrário dos distópicos daqui, potentes
cada um à sua maneira no tratamento da distopia, o diretor
Feliz Randau é só, na falta de termo melhor, “borocoxô”.
Cléber Eduardo
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