EM SUAS MÃOS
Annette K. Olesen, Forbrydelser, Dinamarca, 2003

Apenas seis anos se passaram. No Festival do Rio de 1998, a sensação foram os filmes do Dogma 95 - seguindo espartanos preceitos criados por diretores dinamarqueses, que, ao que tudo indicava, poderiam vir a configurar uma nova "revolução no cinema". Lançados em Cannes naquele mesmo ano, Os Idiotas e Festa de Família acabaram por vir a ser os únicos filmes realmente expressivos do movimento, porque o resto... Mal apareceu, a fórmula logo se esgotou, apesar de ter se tornado o cavalo de batalha do cinema dinamarquês. As limitações inerentes ao Dogma parecem ter encontrado pouso certo como recurso para a realização de filmes "intimistas" ou "dramas humanos", mas que na verdade acabam servindo como escudo para disfarçar a mediocridade de muitos cineastas.

Como Annette K. Olensen, que realizou este recente filme-dogma, cujo cenário é um presídio de mulheres na Dinamarca. A história tem como protagonista uma sacerdote luterana, a quem é dado o cargo de "capelã" no referido presídio. Entre as internas, uma ex-viciada em drogas a quem são atribúidos poderes míticos. A sacerdote acaba por desenvolver uma afinidade e fascinação pela prisioneira, e sua fé e convicções são postas em choque quando, após anos de tentativa, consegue engravidar - mas acaba precisando optar por um aborto, devido à grande probabilidade do feto ser portador de uma anomalia genética. Este argumento poderia render, em mãos talentosas, um belo melodrama, mas, num filme comportado, uma abordagem dentro do pragmatismo e racionalismo nórdicos faz de Em Suas Mãos um poço de puro tédio.

As personagens de Em Suas Mãos, apesar do evidente esforço do elenco, não conseguem ser convincentes transmissoras dos dramas que lhes são atribuídos, mas que, a maior parte do tempo, carecem de verossimilhança. Como as inquietações da protagonista, que, à medida que o filme avança, parece ter um comportamento totalmente incoerente com seu papel de sacerdotisa e líder espiritual. Pode-se dizer que este talvez fosse o dilema principal da personagem, mas, da forma como é conduzido por Olensen, este dilema acaba soando de forma nada convincente. Soma-se a isso uma pobreza, ou mesmo incompetência narrativa, que acabou por decretar a morte mais que prematura do Dogma 95. Esperto mesmo foi Lars von Trier, que mal criou o movimento, pulou fora e foi seguir outros caminhos.

Gilberto Silva Jr.