Apenas seis anos se passaram.
No Festival do Rio de 1998, a sensação
foram os filmes do Dogma 95 - seguindo espartanos preceitos
criados por diretores dinamarqueses, que, ao que tudo
indicava, poderiam vir a configurar uma nova "revolução
no cinema". Lançados em Cannes naquele mesmo
ano, Os Idiotas e Festa de Família
acabaram por vir a ser os únicos filmes realmente
expressivos do movimento, porque o resto... Mal apareceu,
a fórmula logo se esgotou, apesar de ter se tornado
o cavalo de batalha do cinema dinamarquês. As
limitações inerentes ao Dogma parecem
ter encontrado pouso certo como recurso para a realização
de filmes "intimistas" ou "dramas humanos", mas que
na verdade acabam servindo como escudo para disfarçar
a mediocridade de muitos cineastas.
Como Annette K. Olensen, que realizou este recente filme-dogma,
cujo cenário é um presídio de mulheres
na Dinamarca. A história tem como protagonista
uma sacerdote luterana, a quem é dado o cargo
de "capelã" no referido presídio. Entre
as internas, uma ex-viciada em drogas a quem são
atribúidos poderes míticos. A sacerdote
acaba por desenvolver uma afinidade e fascinação
pela prisioneira, e sua fé e convicções
são postas em choque quando, após anos
de tentativa, consegue engravidar - mas acaba precisando
optar por um aborto, devido à grande probabilidade
do feto ser portador de uma anomalia genética.
Este argumento poderia render, em mãos talentosas,
um belo melodrama, mas, num filme comportado, uma abordagem
dentro do pragmatismo e racionalismo nórdicos
faz de Em Suas Mãos um poço de
puro tédio.
As personagens de Em Suas Mãos, apesar
do evidente esforço do elenco, não conseguem
ser convincentes transmissoras dos dramas que lhes são
atribuídos, mas que, a maior parte do tempo,
carecem de verossimilhança. Como as inquietações
da protagonista, que, à medida que o filme avança,
parece ter um comportamento totalmente incoerente com
seu papel de sacerdotisa e líder espiritual.
Pode-se dizer que este talvez fosse o dilema principal
da personagem, mas, da forma como é conduzido
por Olensen, este dilema acaba soando de forma nada
convincente. Soma-se a isso uma pobreza, ou mesmo incompetência
narrativa, que acabou por decretar a morte mais que
prematura do Dogma 95. Esperto mesmo foi Lars von Trier,
que mal criou o movimento, pulou fora e foi seguir outros
caminhos.
Gilberto Silva Jr.
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