O EFEITO KETCHUP
Teresa Fabik, Hip hip hora, Suécia, 2004

É impossível não pensar, logo no início de Efeito Ketchup, nas matrizes de um certo cinema adolescente, eminentemente norte-americano. Mais especificamente, no cinema de high school, que é quase um gênero dentro de um gênero, pois o filme de Fabik se localiza perfeitamente neste gênero. Impressiona, então, a força desta matriz tais as semelhanças de aproximação dramatúrgica, e mesmo de mise-en-scène, com tantos filmes do mesmo gênero que já vimos. Vira quase uma estranheza (ou um retrato um tanto involuntário de uma globalização de costumes - com direito a menção ao programa de TV Big Brother local, e à banda de rap sueco na trilha, cujas letras soam absolutamente iguais aos afins americanos) perceber que, a princípio, só muda mesmo a língua que as personagens falam - e o sueco soa ainda mais peculiar quando os rockzinhos de praxe da trilha sonora entram em inglês. Dentro desta matriz do cinema adolescente, demoramos a entender exatamente a filiação do filme, uma vez que ao clima das filmagens dentro da escola (que lembram todo o esquematismo das relações nas comédias românticas adolescentes) se soma uma surpreendente crueza (inclusive com o surgimento de um pênis segurado pela personagem principal, de doze anos) que remete mais ao cinema de Larry Clark.

Mas, logo fica tudo esclarecido quando percebemos que O Efeito Ketchup é uma perfeita versão escandinava de Aos Treze: um filme que incorpora uma certa "modernidade" de linguagem ou uma pretensa "ousadia" de temas a um latente moralismo alarmista. Sim, como no exemplar norte-americano, trata-se de mais uma "cautionary tale", ou seja, um filme para alertar os pais do perigo de deixarem seus adolescentes sozinhos no assustador mundo da puberdade contemporânea. A única diferença notável entre os dois filmes é que o progenitor ausente aqui trocou de sexo: desta vez a menina é criada pelo pai praticamente "solteiro" (ou seja, abandonado pela mãe). De resto, batem ponto todas as figuras esperadas: a perua auto-centrada e manipuladora; o rapaz sensível mas incapaz de escapar das pressões do grupo de amigos; os boçais "garotos populares"; as amigas que abandonam a protagonista quando esta se torna "mal-vista". Tudo seguindo a cartilha do manual de auto-ajuda para relações entre pais e filhos adolescentes (e é engraçado ver que o filme, jocosamente, coloca o pai lendo um destes numa cena - talvez sem se dar conta de que a piada não cabe no discurso que monta).

Ao final, como era de se esperar, um evento catártico une todos os "de bom coração" no filme (que podem até ter vacilado, mas nunca deixaram de estar do lado certo da Força), e permite a vingança final que leva à humilhação ("olho por olho, dente por dente") dos mau-caráteres. Tudo fica bem quando termina bem - mesmo que o final seja uma estranhíssima cena de "remissão a infância", que revela bem o olhar infantilizador que o filme atira sobre todos os seus personagens. E, no meio tempo, continua sendo difícil se ver nas telas de um cinema de viés mais comercial (portanto, Elefante excluído) um retrato deste universo que se mostre minimamente interessado de fato pelo adolescente - e não "preocupado" com ele. Se a opção dada é apenas a deste pretenso "realismo", maior motivo ainda para abraçar a sátira desbragada de Meninas Malvadas - este sim o grande filme de high school do ano.

Eduardo Valente