CASA DOS BEBÊS
John Sayles, Casa de los Babys, EUA, 2003

Se é bastante curioso observar a trajetória de cineastas oriundos de outras áreas do fazer cinematográfico, com John Sayles não poderia ser diferente. Casa dos bebês surge como um elemento surpresa dentro da carreira de John Sayles, roteirista nato que nunca escondeu que sua formação cinematográfica vem da escrita: um filme em que sua base literária soa muito mais frágil que suas habilidades de construir belas imagens, e onde suas ambições políticas funcionam muito mais quando os personagens estão com a boca fechada.

A narrativa gira entorno de uma casa de adoção de bebês no México, onde Sayles tenta traçar o contato entre um grupo de mulheres bastante diferentes entre si em busca da adoção de crianças com a cultura e a vida mexicana - além de lançar uma visão politizada nada simplificante sobre a situação e as relações entre as mulheres. Um dos pontos importantes a serem notados é que não importa que o cineasta esteja dirigindo melhor que escrevendo aqui, a base do filme será o texto, tal qual Sayles sempre constrói seus filmes, decorrendo então em uma porção de problemas para o filme. O subtexto político nem sempre funciona, as cenas com o garoto pobre são de forma geral equivocadas, as longas trocas de diálogos entre as mulheres americanas não constroem tão bem as personagens como pretendem – ainda que sucedam quando o interesse é construir a relação entre elas. Mas é interessante ver como Sayles, embora acredite bastante em suas idéias (muito longe de serem desprezíveis, só mais bem trabalhadas anteriormente pelo cineasta), parece disposto a se colocar em questão, o que ganha em interesse quando as idéias soam mais frágeis do que costumam em seus trabalhos.

Se Terra do Sol é um filme de tese (e também um belo filme), Casa dos bebês parece soar quase como o oposto. Tudo parece trabalhado de uma outra forma, o discurso é mais aberto, as personagens são mais leves - e quando não o são destoam por completo uma das outras. Sayles se revela grande encenador dos momentos mais simples, como a cena em que Maggie Gyllenhaal fala ao telefone com o marido distante ou o momento em que a mulher americana e a jovem mexicana trocam confidências cada uma em sua língua e ainda assim parecem refletir perfeita capacidade de compreensão - momentos realmente belos dentro de um filme irregular em sua grande maioria.

Acima de tudo um filme onde a direção de atores é a chave para que qualquer coisa funcione já que, calcado diretamente em suas capacidades dramáticas, Sayles não decepciona exercendo a função. É certo que tem em mãos um bom elenco, mas também se sabe que isso não seria o bastante, e algumas das cenas já citadas são também grandes exemplos de cenas onde a direção de atores é perfeita. Mais importante ainda parece ser o último plano: a tela congelada com dois bebês sendo levados para suas mães adotivas, um plano recheado de esperança e simplicidade, que cai como um fim perfeito para o discurso expansivo do filme. Um plano particularmente bem filmado, pensado, montado (e Sayles também exerce a função de montador aqui, assim como compõe e toca algumas das canções). Casa dos Bebês, embora um trabalho menor do cineasta, ainda é de grande interesse.

Guilherme Martins