Campeões tem uma
estrutura narrativa no mínimo peculiar: seus
capítulos são divididos como os jogos
que a seleção de hóquei sobre o
gelo da República Tcheca disputou no campeonato
mundial do esporte (algo que realmente aconteceu), até
chegar a um improvável título. É
como se, no Brasil, usássemos uma campanha futebolística
da seleção numa determinada Copa do Mundo
como comentário, símbolo e justificativa
narrativa para a estruturação de uma determinada
ficção (Jorge Furtado fez algo parecido
no "Comédia da Vida Privada", marcando
o encontro de um grupo de amigos ao longo de anos para
assistir sempre aos jogos da Copa).
Trata-se de uma simpática idéia, que o
filme explora até também. No entanto,
há que se ver o que acontece com a ficção
que de fato compõe o filme a partir desta boa
idéia. E esta, inegavelmente (e sem trocadilhos)
patina bastante. Desde o início, Campeões
deixa claro sua idéia de trabalhar com um microcosmo
(uma minúscula cidade de beira de estrada que,
a julgar pelo filme, só tem mesmo os seis ou
sete habitantes que são personagens aqui) para,
a partir deste, ganhar um significado nacional maior
(espelhado tanto na presença do time de hóquei
que representa a nação como nas diferentes
questões que cada um dos personagens representa
- o da imigração empobrecida, o da presença
dos resquícios da Segunda Guerra, etc). Só
que nesta lógica de relação micro-macro,
quem sai perdendo são os personagens, que na
maioria das vezes têm pouca vida para além
daquilo que o cineasta quer que cada um deles signifique
em determinado momento. Resolvido a traçar um
painel que passa, acima de tudo, por uma certa decadência
e desesperança com as relações
humanas no geral, Najbrt acaba não separando
o que seria uma observação sobre o enfado
de ser, em si mesma, enfadonha.
Há, é verdade, um clima de constante estranheza
(marcada, principalmente, pelas visões que o
bêbado local tem com a seleção de
hóquei) que empresta algum interesse, tanto visual
quanto de construção de universo ao filme.
Assim como é verdade que, no clímax e
na resolução final pós-vitória
da seleção, o filme ganha bastante em
ritmo e em vida interna - especialmente na fuga das
únicas duas "forças da natureza"
do local (a mulher e o garoto) do círculo vicioso
criado pelos homens de lá. E também deve-se
dizer que a conexão do acontecimento extra-local
(a vitória no Campeonato, celebrado por um dos
homens como a solução dos problemas tchecos,
da prova da superioridade tcheca, etc) com o que se
filme tem especial interesse para nós e nossa
relação, de novo, com as Copas do Mundo
e campeonatos esportivos em geral. São estes
elementos que fazem de Campeões, se um
filme um tanto claudicante, de forma nenhuma um trabalho
desprovido de qualidades e fontes de curiosidade.
Eduardo Valente
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