Alguns filmes tendem a levantar
questões que podem soar mais incisivas no que diz respeito
ao ato de fazer cinema em si do que ao próprio cinema
que vemos na tela. Se Baaaadassss se encaixa
nesse quesito também é uma reafirmação de como é muito
complicado sequer se pensar na possibilidade de separar
as duas coisas. Mario Van Peebles realiza um estudo
bastante pessoal sobre a trajetória de Melvin Van Peebles,
aqui mais emulado como mentor do que necessariamente
pai, enquanto tentava se esquivar das limitações dos
estúdios e investia sua vida na realização de Sweet
Sweetback’s Baaaadassss Song. Todo o interesse gerado
pelo filme de Mario, então, não vem necessariamente
do esforço dramatizado na tela, mas do esforço que ecoa
estar sendo realizado atrás desta.
Van Peebles (o filho) parece tão mergulhado no delírio
de reencarnar todo o processo que testemunhou décadas
atrás, que torna-se um bocado desleixado sobretudo com
a direção de atores, o que de certa forma será vital
para que a viagem que pretende emperre de princípio
– talvez o único ator que realmente esteja na sintonia
certa seja o próprio Mario (além das belas moças que
mais do que cumprem seus papéis). Sua busca por uma
aproximação com a obsessão do pai é intercalada por
depoimentos dos personagens, tentando emular um falso
documentário. Nestes momentos, quase se acredita que
o cineasta vá optar por uma vertente mais calcada no
humor – que, mesmo presente, parece sempre atravessado
por demais pelos tons dramáticos, onde Van Peebles por
alguns momentos opta por morais complicadas (ainda que
siga um olhar mais compreensivo perante as atitudes
de Melvin do que necessariamente assinando embaixo seus
atos).
Qual seria então o mérito de Baaaadassss? Apesar
de todos os problemas, que se aplicam ainda a encenação
e decupagem equivocadas em algumas opções (com seus
“momentos” de Réquiem para um Sonho), de alguma
forma este filme ainda soa importante. Talvez pelo impacto
de ver uma obra onde se possa notar pulsar por trás
das câmeras muita vontade de cinema, e ver até nos seus
problemas um tanto desta; ou por observar um cineasta
ter a coragem de realizar uma obra absolutamente pessoal,
onde impera uma piração particular. São interesses complicados,
sobretudo por estarem excessivamente além da imagem,
mas se tornam obrigatórios quando se transpõem nesta.
O filme, então, se nos decepciona em muitas instâncias,
nunca chega a perder de todo o interesse.
Guilherme Martins
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