BABOUSSIA
Lydia Bobrova, Babousya, França/Rússia, 2004

Melodramático e piegas, Baboussia parte da situação clichê em que avó, depois da morte da filha, é abandonada primeiro pelo genro e em seguida pelos netos, os quais ajudou a criar. Traçando oposições simples entre a desamparada e gentil heroína (a avó) e os cruéis e desumanos antagonistas (os netos), Lídia Bobrova não escapa do mero artificialismo dramático, na medida em que força, a qualquer custo, a identificação do espectador com a protagonista, em detrimento do mínimo de compreensão acerca dos motivos e das atitudes dos demais personagens.

Dada a estrutura pueril e maniqueísta, Baboussia é desprovido de emoção: trata-se de personagens monótonos, aprisionados em planos-seqüências sem tensão interna, que se arrastam em virtude da incapacidade da cineasta em gerar conflitos humanos verdadeiros, sem o apoio da (má) literatura de folhetim.

Lídia Bobrova, por fim, não coordena a instância pessoal e emotiva dos personagens com a realidade política e social da Rússia pós-soviética, proposta esboçada e não desenvolvida durante o filme, pois cita a esmo a presença dos "novos russos" e da guerra civil na Chechênia, ao mesmo tempo em que exalta sentimento nostálgico pelo passado longínquo (a infância perdida dos netos) que apaga a realidade em favor do escapismo do sonho e, sobretudo, da morte.

Paulo Ricardo de Almeida