CONTRA-REGRA
coluna semanal de televisão

Desde que assumiu o programa A Casa É Sua, na RedeTV, Clodovil vem dando mostras diárias de prepotência e auto-indulgência. O programa segue a linha voltado para o público feminino, que domina o espaço vespertino da televisão brasileira.

Com Clodovil no comando, o que vemos, todo dia, é um apresentador que não tem o mínimo apreço pelo que está fazendo; um homem que parece odiar o seu próprio programa, só mantendo-o no ar como veículo de autopropaganda. Sim, porque Clodovil não raramente destrata todo mundo (desde convidados e anunciantes até pessoas da produção e da técnica) e faz cara feia para vários dos quadros (e anúncios) que são exigências da emissora. Ele só parece à vontade quando o assunto é ele mesmo; elogiando-se, falando de como tem relações com pessoas importantes, de como ele mesmo é honesto, íntegro e querido por todos.

Outro hábito contínuo do apresentador Clodovil é destratar quem lhe critica. Nessa semana, ele conseguiu chegar ao cúmulo de agredir verbalmente uma jornalista por comentários negativos ao apresentador e a seu programa. Foram minutos de agressões, com insultos como "incompetente", "mau caráter", "perua", "ordinária" e "rameira". Clodovil se autodenominou um protegido por Deus, e por isso, disse ele, ela não poderia atingi-lo (o apresentador inclusive ameaçou dar bofetadas na jornalista se a encontrasse e disse que, por ele, ela podia morrer).

Emendado com isso, Clodovil disse que não estava ali, trabalhando todo dia, para ser criticado pelos outros (pondo-se na posição de decidir o que cada um deve, ou não, falar); e diz que se, no domingo, o programa Pânico na TV, seu colega de RedeTV, fizer alguma sátira com ele, podem se preparar que segunda ele não faz seu programa e pede demissão.

Daí estorou uma auto-indulgência beirando o totalitarismo. Clodovil soltou frases como "eu sou o melhor da televisão", justificando que ele dizer isso não era nenhum tipo de prepotência: "isso é consciência". "Eu faço melhor que as pessoas" e "eu mudei a história da televisão brasileira" foram outras frases que se seguiram no asqueroso discurso do apresentador.

Parece bem claro que Clodovil mostrou-se um grande recalcado: alguém que se acha gênio e, por motivos óbvios, tem muito pouca gente para concordar com ele. Assim, ele fica nessa via crucis para tentar convencer, com o espaço de TV que ele tem, todo mundo dessa sua suposta genialidade.

Agora é torcer para que o Pânico na TV não se intimide e satirize o auto-intitulado predestinado.

* * *

Nessa semana começou a nova edição da Casa dos Artistas, no SBT. Depois de muito se falar a respeito de quem iria apresentar o programa (cogitaram-se nomes como Gugu e Ratinho), acabou que, mais uma vez, o comando do programa está nas mãos de Silvio Santos; o que, a princípio é ótimo.

A grande incógnita é saber como e o que vai ser essa Casa dos Artistas. Na sua primeira edição, foi algo de genial; surgiu do nada, tirou toda a audiência do líder de audiência Fantástico, da Rede Globo, e teve momentos memoráveis protagonizados por Silvio Santos, Alexandre Frota, Supla, Bárbara Paz e companhia. A segunda edição foi bem menos interessante, mas teve seus bons momentos; ao contrário da terceira, que foi fracasso total, com a novidade de serem 6 artistas e 6 fãs.

Já nessa quarta edição são 12 participantes não famosos. A luta é justamente para se tornar um artista: o vencedor será protagonista de uma novela no SBT.

No programa de estréia, quando os participantes foram selecionados, através de vídeos e perfomances no palco, o que vi não foi animador; todos tentando provar suas qualidades como ótimos atores, num clima parecido com o do Fama; tudo está sendo passado como se esse novo programa fosse uma academia de interpretação. Parece um fracasso anunciado; vamos torcer para que não.

Francisco Guarnieri

Textos da semanas anteriores:
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Terapeuta JK (por Francisco Guarnieri)
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Pânico! (por Felipe Bragança)
Notas, notas, notas (por Francisco Guarnieri)
Da TV e dos corpos humanos, parte 2 (por Felipe Bragança)
Da TV e dos corpos humanos, parte 1 (por Felipe Bragança)
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