Antes
de realizar o já exibido comercialmente por aqui O Último Beijo, sentimental comédia dramática sobre as rachaduras
afetivas de casais em diferentes estágios de seus relacionamentos,
o diretor italiano Gabriele Muccino, hoje dedicado à
refilmagem americana de O Gato Sumiu, de Cedric Kaplish, havia
dirigido esse Para
Sempre na Minha Vida. Antes da primeira imagem, notícias sobre turbulências
políticas, de diferentes épocas e lugares, plantam uma
questão. Independentemente do período e do país, os
problemas amorosos suplantam a macro-realidade. O filme
visa registrar esse universo de intimidade, mas com
os dois olhos no universal-atemporal. Tudo poderia se
passar em qualquer tempo-local, porque os fatos e contextos
não contaminam as guerras e os armistícios das emoções.
Qualquer contexto apresentado, portanto, terá ali de
ser esvaziado. Pois nada pode interferir na essência
do que está sendo tratado pelo diretor: a insegurança
em relação ao futuro, a ansiedade gerada pela perda
da virgindade, os desencontros afetivos e a construção
de uma identidade que, sem abrir mão da aceitação em
determinado grupo de convivência, persegue a afirmação
da individualidade.
Sobre tudo isso saberemos logo nos primeiros minutos.
Embora vá abrir o leque narrativo em seu transcorrer,
incorporando diferentes personagens como condutores
de alguns trechos, o roteiro elege um protagonista.
Trata-se de um adolescente de 16 anos, sempre às turras
com os pais, às voltas com a descoberta de táticas de
sedução e louco para perder a virgindade. Ele participa
da ocupação de sua escola com outros colegas, em protesto
contra a privatização do ensino, mas só tem cabeça para
a namorada de um chapa. Uma traminha boboca demais para
se sustentar é elaborada para costurar os temas propostos.
Temos, assim, uma linha de frente e um pano de fundo.
Ou seja: os atritos de ordem amorosa e a militância
estudantil. Uma e outra serão usadas para levar o espectador
ao riso, servirão para que se tire sarro delas. O drama
do personagem central, mesmo sendo banhado em apelos
emocionais, é relativizado por um enfoque que, a cada
momento, assume uma posição distante. É o olhar de um
adulto para um adolescente, de quem não leva a sério
as dores do outro, de quem finge entender sem compartilhar.
Pelo contrário. Muccini trata esse sofrimento com a
intenção de nos fazer achar graça dele. Conflito familiar,
choque de gerações, amizades abaladas, tudo vira piada.
O mesmo se dá, de forma ainda mais explícita, com o
lado político. No caso, apolítico. Os militantes são
reduzidos a slogans vazios, tratados como bobocas inúteis
que se reúnem para fazer farrinha, para se sentir parte
de um grupo, provavelmente para fugir da convivência
dos pais. Persegue-se, intencionalmente ou não, a despolitização.
Nesse sentido, é um filme sintomático. Filia-se com
a Itália de Berlusconi ao tirar tudo de contexto, debochar
da resistência juvenil e ainda olhar para Maio de 68
apenas como molecagem romântica. Muccino é o anti-Nani
Moretti do cinema italiano. Sua ambição, aparentemente,
é pequena. Só na aparência. Ele caça uma aparência de
filminho sensível com levada esperta, o que, para muitos
olhares, leva o resultado a ser visto como delicado
e meigo em sua modernidade. O caminho para tal é a música
“toca-coração” e a encenação cheia de cacoetes, com
ritmo dinâmico-apressado, que busca um estilo contemporâneo,
da moda, prisioneiro da ditadura da “câmera leve”, asfixiado
pela montagem estilhaçada. Tais características podem
até soar como opção adequada à urgência dos personagens,
mas não ajudam em nada na construção de uma carga emotiva
e dos próprios personagens.
Para Sempre na Minha Vida é tolo no que importa
e lamentável no que afirma não importar. Sua pretensão
nada pequena é dar uma resposta com o próprio filme
a quem cobra dos italianos uma filiação às posturas
dos neorealistas e do cinema política dos anos 60/70.
E essa resposta é de esquecimento da realidade. Ela
não importa, defende o diretor.
Cléber Eduardo
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