Terapeuta JK
Que o João Kleber sempre usou e abusou das pessoas
que vão ao seu programa para criar os seus "barracos"
e "polêmicas", mantendo assim sua audiência,
estamos cansados de saber. A novidade está em
tentar vender esse circo dos horrores como um grande
serviço público e social. No seu programa
de Segunda-feira (21/06) ele inventou de entrar na onda
do "merchandising social" e começou
com um discurso dizendo que o 'Teste de Fidelidade'
havia sofrido um upgrade, que aquela discussão
entre o "marido-traidor" e a "esposa-sofredora"
não era lavagem de roupa suja e que seria uma
grande sacanagem se o programa só fizesse o teste
e depois largasse o casal, sem nenhum auxílio.
Então, veio a grande novidade; batendo todos
os extremos da falta de vergonha na cara, o apresentador
disse para o público que aquela discussão
que aconteceria depois do teste exibido (e da traição
teoricamente comprovada) tinha se tornado uma verdadeira
terapia de casal; que como acontecia numa das maiores
redes de televisão americana, o seu programa
estava fazendo a tal da terapia de casal. Numa atitude
obviamente inventada naquele momento (é bem provável
que a idéia tenha sido passada para ele, por
ponto eletrônico, em meio ao programa), o mesmo
apresentador, no mesmo quadro, que na semana anterior
havia tomado atitudes como:
(flashback)
Ao acabar a exibição do teste, está
o casal no palco e João Kleber vira para eles
e diz "agora é com vocês, eu não
tenho nada com isso" (já era revoltante
por ele não ter nada com isso num quadro que
é dele, no programa dele, ou seja, uma situação
que ele deu todas condições para existir;
e pior ainda quando, uma semana depois, ele declara
que seria sacanagem passar o teste e não fazer
mais nada); Logo depois ele chama a Bandida (uma mulher
que segue o estilo Feiticeira/Enfermeira do Funk) e,
enquanto o casal se digladia, a câmera corre pelo
corpo da moça, num total desprezo pela conversa
do casal; e ao final do quadro, precisando cortar, o
apresentador fala que o casal agora vai conversar lá
atrás para se entender, ao ser interrompido pela
esposa dizendo que não quer saber de conversa,
João Kleber a ignora com um "tudo bem, mas
conversa lá".
(retorno ao presente)
E é esse o apresentador, com o quadro rigorosamente
igual, que vem na semana seguinte e diz que aquilo tudo
é terapia de casal (chegando a trocar o letreiro
no canto da tela de "Teste de Fidelidade"
para "Terapia Sexual") e defende o seu lado
afirmando que muitas pessoas não testam a fidelidade
de seu companheiro porque não têm coragem,
mas sabem que são traídas e ficam em casa
sofrendo; e que o teste (a nova "terapia")
é um desabafo, ótimo para a pessoa. Agora
só falta João Kleber querer que agradeçamos
a ele!
SEXO, atores, diretores, tudo é FRÁGIL
Depois do sucesso de A Grande Família
e, principalmente, de Os Normais, a Globo resolveu
apostar nesses seriados de humor. Tanto em Sob Nova
Direção como em A Diarista,
apesar da tentativa de dar um visual "moderno e
estiloso", a fórmula utilizada é
a mais simples: apostam muito mais no texto e no carisma
das atrizes, sem muitas firulas. Porém, ambos
dão errado porque têm textos sem graça
que não conseguem sair do óbvio banal
e atrizes sem carisma algum, principalmente Heloísa
Perissé e Ingrid Guimarães, que dão
show de mesmice em Sob Nova Direção.
Já o programa que parece ser o carro-chefe desses
novos seriados humorísticos, Sexo Frágil,
é o que tenta "inovar" alguma coisa
(acho que nem eles sabem exatamente o quê, mas
o mais importante parece ser dar um ar de inovador),
mas só o que consegue é ser, muito provavelmente,
o programa mais chato de humor na TV brasileira. Pra
começar, as atuações são
todas fracas, todos os atores tentam atuar alternando
entre o caricatural-chanchadesco e o naturalismo; o
problema é que nenhum consegue ser feliz em nenhum
dos dois momentos, e são piores ainda na conjugação
entre as duas formas. Destaque negativo para Lúcio
Mauro Filho (que parece achar que composição
de personagem é ter uma voz bizarra e um olho
esbugalhado), que tem uma das atuações
mais grotescas que já vi em televisão.
Outro problema vem da tentativa de se fazer humor também
pela forma, coisa em que diretores/editores se mostram
muito incompetentes. Nessa tentativa apela-se para uma
direção totalmente publicitária,
procurando fazer "gracinhas" o tempo todo
com cortes rápidos e closes esquizofrênicos
sem o menor talento; além da utilização
lamentável da trilha sonora, com entradas musicais
rápidas e repentinas tentando arrancar risos
do espectador. Toda essa fórmula já é
batida e cansativa em comercias de 30 segundos, agora
imaginemos num programa de quase uma hora.
Da Cor do Pecado: se já era chato, com auto-paródia
então...
João Emanuel Carneiro vem dando uma nova fase
a sua novela das 7. A trama que tentava, sem sucesso,
alternar momentos de comédia com dramalhões
moralistas/paternalistas agora aposta na elevação
de tudo isso e enésima potência. Parece
que, vendo que a sua fórmula inicial estava fazendo
grande sucesso, o autor pensou algo como "é
isso que eles gostam? Então, daremos a eles em
dobro". A fase agora é de apelar para o
dramalhão total no núcleo dos sofredores
– é Preta e Paco/Apolo se encontrando, se beijando
aos prantos, é o personagem de Lima Duarte sofrendo
por ter sido tão seco e cruel no passado, é
Bárbara, a rainha da barbaridade, sendo humilhada
pelo próprio filho – e entrar na auto-paródia
nos núcleos dos engraçadinhos – na Família
Sardinha agora são todos comediantes: o que era
uma dupla de paspalhos (os personagens de Cauã
Reymond e Pedro Neschling) agora já é
um quarteto (ganham a companhia de Caio Blat e Karina
Bacchi); Maitê Proença e Ney Latorraca,
além de estarem cada vez mais pastelões,
monótonos e sem graça, ganharam companhia
de Graziela Moreto e Leonardo Brício para auxiliar
na pasmaceira. Todos sempre apelando para a fórmula
de interpretação humorística que
é falar tudo gritando, fazendo caretas e gesticulando
de um jeito que mais parece algum tipo de mímica
ou imitação de algo identificável.
Frota é o dono do circo
Duas presenças vêm sendo marcantes em programas
de auditório nas últimas duas semanas.
Presenças essas que são opostas na forma
de se comportar no palco onde estejam. A primeira, Paulo
Maluf, tem ido a diversos programas e sempre dizendo
as mesmas coisas, dando as mesmas desculpas para tentar
negas todas as acusações que ele vem sendo
alvo; tudo em meio a um comportamento "descolado",
cumprimentando artistas com tapinhas e dançando
as músicas, numa óbvia atitude desesperada
para tentar reconquistar o eleitorado popular. A segunda
presença, Alexandre Frota, voltou a circular
em diversas emissoras depois do fim do concurso Garota
Abusada na RedeTV, indo aos programas e criando seu
próprio show. Ao contrário de Maluf, ele
rouba a cena de onde está, funcionando quase
como comandante do programa. Em um momento, no SuperPop,
enquanto todos tentavam criar polêmicas na figura
dele e Nelson Rubens o atacava por fazer filmes pornográficos,
ele ignorou tudo e virou para o fofoqueiro-apresentador
e disse: "você quer uma fita do filme? Toma,
é pra você". E logo se levantou oferecendo
fitas dos filmes para a platéia, apresentadora,
convidados; armando um verdadeiro circo em que a atração
principal era novamente ele e não as polêmicas
e o questionamento moral que Nelson Rubens tentava levantar.
Francisco Guarnieri
Textos
da semanas anteriores:
Viagens
Fantásticas (parte 1) (por Felipe Bragança)
Coito
de Cachorro, Otávio Mesquita, Sônia Abrão
e outras sumidades televisivas (por Francisco Guarnieri)
Pânico!
(por Felipe Bragança)
Notas,
notas, notas (por Francisco Guarnieri)
Da
TV e dos corpos humanos, parte 2 (por Felipe Bragança)
Da
TV e dos corpos humanos, parte 1 (por Felipe Bragança)
Violência
da edição, edições da violência
(por Felipe Bragança)
Fauna
in concert: Tribos, Ayrton Senna, Monique Evans, João
Kléber (por Francisco Guarnieri)
Repórter
Cidadão: pouca cidadania, reportagem duvidosa
(por Francisco Guarnieri)
Semana
de carnaval (por Francisco Guarnieri)
A
dona da verdade (por Felipe Bragança)
Mormaço
(por Felipe Bragança)
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2003 Parte 2 (por Felipe Bragança)
Retrospectiva
2003 (por Felipe Bragança)
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Grata futilidade de Gilberto Braga (por Felipe Bragança)
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treze (por Roberto Cersósimo)
Algum
começo... (por Felipe Bragança)
Uma
novela de... (por Roberto Cersósimo)
O
canal das mulheres, a cidade dos homens (por Felipe
Bragança)
O
fetiche do pânico (por Roberto Cersósimo)
Televisão cidadã, cidadãos televisivos
(por Felipe Bragança)
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