O Agente da Estação
Thomas McCarthy, The station agent, EUA, 2003

Um dos principais problemas do recente cinema dito independente dos EUA foi a passagem de sua realização de um momento de autêntica necessidade de expressão livre de temas e formatos diferentes do realizado nos grandes estúdios para um estado de quase "pré-vestibular" para a entrada nestes, ou de outra forma, um momento em que os realizadores pareciam cada vez menos interessados e preocupados com o que estava diante de sua câmera para mostrarem-se, eles mesmos, como uma rapaziada "ixperta" e cheia de coisas a dizer. Neste sentido, é reconfortante ver, neste Agente da Estação, pelo menos um pouco do que podia ser o melhor que o cinema independente podia oferecer, acima de tudo pelo interesse sincero e bem pouco esquemático que demonstra por seus personagens.

É claro que a escolha de um personagem/ator de pouco mais de um metro de altura para protagonista da história poderia revelar-se um tremendo tiro pela culatra, jogando o filme em caminhos bastante tortuosos – seja o do "politicamente correto" drama de minorias (no qual ele ainda cai em uma ou duas cenas, mas que surgem como menos importantes no todo), seja o da "comédia bizarra"malandra. No entanto, depois de um funcional prólogo rápido onde é estabelecida a situação principal que leva o protagonista a se mudar para uma pequena cidade onde é um estranho, o filme opta por um outro caminho conhecido (o do estranho que muda as pessoas na cidade onde chega, e é mudado por elas), só que consegue se aproximar deste formato com suficiente interesse pelos personagens e sua interação e, com isso, nos manter da mesma forma interessados pelo que acontece na tela.

É verdade que o filme se utiliza de alguns artifícios eventualmente óbvios para contar sua história (principalmente a excessivamente reiterativa e melancólica trilha sonora, que dá tons absolutamente forçados e desnecessários ao material filmado), mas a força maior que ele consegue extrair é mesmo da atuação dos atores, em especial da ótima Patrícia Clarkson (a amiga de Julianne Moore em Longe do Paraíso) e do ator-anão Peter Dinklage, que foge o tempo todo dos estereótipos em que seu personagem podia patinar. É acima de tudo da dinâmica da relação que o personagem estabelece com o de Clarkson e o do jovem cubano-americano que trabalha perto de sua casa (onde talvez o menos carente dos personagens revele-se ser Finbar, o anão) que o filme vai se alimentar dali por diante. O diretor parece capaz de respeitar o ritmo destes encontros e desencontros, reconhecendo a necessidade de tempo e repetição para que se realize entre os personagens (e entre eles e nós) o tipo de relação que ele propõe. Tanto assim que no último e belíssimo plano, estaremos ainda ao lado destes três personagens num "final aberto" que é muito mais fruto de coerência narrativa do que necessidade de estrutura, onde as relações ainda estão (e estarão sempre) em constante modificação e evolução. Um filme, em suma, que se não chega a ser brilhante, consegue ao menos se destacar do atual estado de coisas bastante lamentável do cinema independente americano.

Eduardo Valente