Um dos principais problemas do recente
cinema dito independente dos EUA foi a passagem de sua
realização de um momento de autêntica
necessidade de expressão livre de temas e formatos
diferentes do realizado nos grandes estúdios
para um estado de quase "pré-vestibular"
para a entrada nestes, ou de outra forma, um momento
em que os realizadores pareciam cada vez menos interessados
e preocupados com o que estava diante de sua câmera
para mostrarem-se, eles mesmos, como uma rapaziada "ixperta"
e cheia de coisas a dizer. Neste sentido, é reconfortante
ver, neste Agente da Estação, pelo
menos um pouco do que podia ser o melhor que o cinema
independente podia oferecer, acima de tudo pelo interesse
sincero e bem pouco esquemático que demonstra
por seus personagens.
É claro que a escolha de um personagem/ator de
pouco mais de um metro de altura para protagonista da
história poderia revelar-se um tremendo tiro
pela culatra, jogando o filme em caminhos bastante tortuosos
– seja o do "politicamente correto" drama
de minorias (no qual ele ainda cai em uma ou duas cenas,
mas que surgem como menos importantes no todo), seja
o da "comédia bizarra"malandra. No
entanto, depois de um funcional prólogo rápido
onde é estabelecida a situação
principal que leva o protagonista a se mudar para uma
pequena cidade onde é um estranho, o filme opta
por um outro caminho conhecido (o do estranho que muda
as pessoas na cidade onde chega, e é mudado por
elas), só que consegue se aproximar deste formato
com suficiente interesse pelos personagens e sua interação
e, com isso, nos manter da mesma forma interessados
pelo que acontece na tela.
É verdade que o filme se utiliza de alguns artifícios
eventualmente óbvios para contar sua história
(principalmente a excessivamente reiterativa e melancólica
trilha sonora, que dá tons absolutamente forçados
e desnecessários ao material filmado), mas a
força maior que ele consegue extrair é
mesmo da atuação dos atores, em especial
da ótima Patrícia Clarkson (a amiga de
Julianne Moore em Longe do Paraíso) e
do ator-anão Peter Dinklage, que foge o tempo
todo dos estereótipos em que seu personagem podia
patinar. É acima de tudo da dinâmica da
relação que o personagem estabelece com
o de Clarkson e o do jovem cubano-americano que trabalha
perto de sua casa (onde talvez o menos carente dos personagens
revele-se ser Finbar, o anão) que o filme vai
se alimentar dali por diante. O diretor parece capaz
de respeitar o ritmo destes encontros e desencontros,
reconhecendo a necessidade de tempo e repetição
para que se realize entre os personagens (e entre eles
e nós) o tipo de relação que ele
propõe. Tanto assim que no último e belíssimo
plano, estaremos ainda ao lado destes três personagens
num "final aberto" que é muito mais
fruto de coerência narrativa do que necessidade
de estrutura, onde as relações ainda estão
(e estarão sempre) em constante modificação
e evolução. Um filme, em suma, que se
não chega a ser brilhante, consegue ao menos
se destacar do atual estado de coisas bastante lamentável
do cinema independente americano.
Eduardo Valente
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