É complicado a estas alturas
um filme se dispôr a elucidar qualquer coisa de
nova sobre a questão da escravidão nas
colônias africanas nos séculos passados.
É verdade que toda questão não
precisa ser nova, pois precisamos ser lembrados vezes
e mais vezes, como raça, de certas injustiças
e acontecimentos. Mas, o problema deste filme é
que ele não adiciona efetivamente nada, nem um
olhar diferente por ser realizado na mesma região
dos acontecimentos, por uma equipe africana. O olhar
sobre as populações dizimadas e capturadas
é feito pela perspectiva da ficção
clássica de reconstituição de época,
a partir de uma história de amor interrompida
pela morte, e do surgimento de uma nova que desafia
as convenções.
O que incomoda mais no filme, é que mesmo se
aceitando por completo as regras clássicas de
narrativa que ele propõe, uma história
passada numa situação como a escravidão
sofrerá sempre de um problema sério, no
ponto de vista do espectador e sua identificação:
pode-se até torcer pelos personagens em questão
(no caso, o casal), mas sabemos que por mais que eles
escapem, o final não será nunca feliz,
pois eles forma dois de toda uma raça. A vitória
parecerá efêmera e sem utilidade. Por outro
lado, se optarmos por suas mortes no final, também
não adquirimos nada de novo. Com isso, a relação
do filme com o espectador é de fria contemplação
dos dramas narrados.
Há sim algumas boas sacadas, como as cenas em
que os escravos cantam acorrentados, o que remete diretamente
à toda herança que a música negra
criou no Ocidente. Também há cenas bonitas
ao retratar o olhar de desânimo e entrega dos
escravos, retirados de suas terras natais, que emprestam
uma honesta melancolia histórica ao filme. Mas,
ao final da projeção, a impressão
que fica é de uma daquelas aulinhas meio chatas
de história, onde presenciamos solenemente algo
importante, mas que nos parece óbvio. Há
formas mais contundentes de causar de fato algum conhecimento
ou revolta sobre assuntos como este.
Eduardo Valente
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