Addangaman
Gnoan M'bala, Addangaman, Costa do Marfim, 2000

É complicado a estas alturas um filme se dispôr a elucidar qualquer coisa de nova sobre a questão da escravidão nas colônias africanas nos séculos passados. É verdade que toda questão não precisa ser nova, pois precisamos ser lembrados vezes e mais vezes, como raça, de certas injustiças e acontecimentos. Mas, o problema deste filme é que ele não adiciona efetivamente nada, nem um olhar diferente por ser realizado na mesma região dos acontecimentos, por uma equipe africana. O olhar sobre as populações dizimadas e capturadas é feito pela perspectiva da ficção clássica de reconstituição de época, a partir de uma história de amor interrompida pela morte, e do surgimento de uma nova que desafia as convenções.

O que incomoda mais no filme, é que mesmo se aceitando por completo as regras clássicas de narrativa que ele propõe, uma história passada numa situação como a escravidão sofrerá sempre de um problema sério, no ponto de vista do espectador e sua identificação: pode-se até torcer pelos personagens em questão (no caso, o casal), mas sabemos que por mais que eles escapem, o final não será nunca feliz, pois eles forma dois de toda uma raça. A vitória parecerá efêmera e sem utilidade. Por outro lado, se optarmos por suas mortes no final, também não adquirimos nada de novo. Com isso, a relação do filme com o espectador é de fria contemplação dos dramas narrados.

Há sim algumas boas sacadas, como as cenas em que os escravos cantam acorrentados, o que remete diretamente à toda herança que a música negra criou no Ocidente. Também há cenas bonitas ao retratar o olhar de desânimo e entrega dos escravos, retirados de suas terras natais, que emprestam uma honesta melancolia histórica ao filme. Mas, ao final da projeção, a impressão que fica é de uma daquelas aulinhas meio chatas de história, onde presenciamos solenemente algo importante, mas que nos parece óbvio. Há formas mais contundentes de causar de fato algum conhecimento ou revolta sobre assuntos como este.

Eduardo Valente