Tendo
realizado em 1998 um documentário com o mesmo
título acerca de Michael Alig, o rei dos clubbers
durante o período da metade da década
de 80 à metade da de 90, os cineastas resolveram
que poderiam ir a frente com a idéia e transmutar
em imagens recriadas – os cineastas já fazem
experimentos com a reencenação no documentário
– aquilo que queriam cativar de dentro daquele mundo
bastante particular. É inegável o interesse
da dupla pelo assunto, sobretudo pelo personagem de
Alig – e talvez esteja aí seu maior problema
enquanto filme-tese sobre o tal mundo que se pretende.
No documentário que lhe rende origem é
bastante prático o mergulho dentro do "mundo
em volta de si" que Alig criou, e todas as entrevistas
se dão e são montadas para construir um
retrato da personalidade de Alig. Mas, como um filme
que tentaria trazer interesse a figura de Michael Alig,
Party Monster é sem dúvida um fracasso.
Resumir a culpa por tal fracasso na assustadora (no
pior sentido do termo) atuação de Macaulay
Culkin é também amenizar os diversos problemas
do filme. Trata-se do retorno como protagonista do astro
mirim de Esqueceram de Mim e outros ao cinema,
e sua atuação não poderia ser mais
terrível, embora não se possa dizer se
por culpa dos cineastas – não tão habituados
a dirigir atores – ou se por pura incapacidade de Culkin.
Num certo momento, o personagem de Culkin fala sobre
como afirmam que ele seria superficial. Talvez isso
se reflita no fato de que os coadjuvantes do filme,
mesmo os menores, acabem por ser personagens que, ainda
que em menor escala, causem um interesse maior ao filme
- terminando em outro problema, que será o filme
não conseguir preencher este interesse, por voltar
em todo momento à figura desinteressante de Alig.
É impressionante ver em algumas cenas a incapacidade,
tanto dos cineastas quanto de Culkin, em darem algo
ao personagem, ficando ainda mais claro quando ele divide
cena com Chloë Sevigny (em especial a da banheira)
e Seth Green (em qualquer cena). Aliás, Green
é um dos grandes pontos do filme, sendo perfeito
ao interesse dos diretores, calcando uma atuação
que possui sim alguns tiques, mas tiques funcionais
- nunca com tons de aberrações como Culkin.
Um dos rachas que se encontraram entre o documentário
e este longa é esbarrar no dinamismo dos formatos.
A busca no documentário é clara, e os
cineastas mergulham nela – talvez particularmente fascinados
por aquele mundo, é completamente compreensível
o interesse da dupla em levar a frente a idéia.
O problema é que aqui, onde baseiam-se no livro
"Disco Bloodbath", escrito por James St. James
(Green no longa), eles deixam atrofiar as idéias
de retratar um mundo, aos poucos se perdendo numa busca
incessante pela personalidade de um personagem que conheciam
tão bem em primeiro momento, que foram capazes
de construir nas primeiras cenas. Logo se perde o interesse
naquilo que o filme se calca, e aquilo que a priori
soava como ao menos um retrato bastante interessante
e pessoal de algo, desaba em pura repetição
tediosa.
Se aproximar do mundo que retratam e parecem conhecer
bem enquanto pesquisadores (é impossível
não notar os detalhes da direção
de arte em buscar retratar com perfeição
a época), com as escolhas formais feitas pela
dupla, é um tanto complicado. Temos um show de
cores e filtros mesclados com o mais simples digital,
com a película bastante trabalhada junto à
closes às vezes quase bizarros, em uma montagem
que une agilidade e a necessidade de soar estranha,
transformando o filme numa verdadeira experiência
em histerismo - aprofundada a tal ponto em cenas como
aquela em que o rato surge ao lado de Seth Green, que
tornam seu lado histérico algo quase interessante.
Mas, infelizmente são momentos casuais, a maioria
do tempo não convencendo.
Além de um retrato sempre em dúvida consigo
mesmo, se fascinado ou critico diante do que mostra,
sua ambigüidade serve como chave para se notar
o porquê James St. James é sempre tão
mais interessante que Alig: os personagens trocam alguns
diálogos discutindo à quem o filme pertenceria
e fica claro no final que a intenção dos
autores seria a de que embora se baseasse num livro
de James, seu verdadeiro dono fosse a persona de Alig
– mas fica ainda mais exposto no filme sua fragilidade,
pois James parece sempre lhe estar tirando o filme em
todos os momentos. Todavia, com todos os seus tropeços
e diversos defeitos, Party Monster não
deixa de ser um filme que atraia algum interesse, inclusive
em seus maiores problemas.
Guilherme Martins
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