PARTY MONSTER
Fenton Bailey e Randy Barbato, Party monster, EUA, 2003

Tendo realizado em 1998 um documentário com o mesmo título acerca de Michael Alig, o rei dos clubbers durante o período da metade da década de 80 à metade da de 90, os cineastas resolveram que poderiam ir a frente com a idéia e transmutar em imagens recriadas – os cineastas já fazem experimentos com a reencenação no documentário – aquilo que queriam cativar de dentro daquele mundo bastante particular. É inegável o interesse da dupla pelo assunto, sobretudo pelo personagem de Alig – e talvez esteja aí seu maior problema enquanto filme-tese sobre o tal mundo que se pretende. No documentário que lhe rende origem é bastante prático o mergulho dentro do "mundo em volta de si" que Alig criou, e todas as entrevistas se dão e são montadas para construir um retrato da personalidade de Alig. Mas, como um filme que tentaria trazer interesse a figura de Michael Alig, Party Monster é sem dúvida um fracasso.

Resumir a culpa por tal fracasso na assustadora (no pior sentido do termo) atuação de Macaulay Culkin é também amenizar os diversos problemas do filme. Trata-se do retorno como protagonista do astro mirim de Esqueceram de Mim e outros ao cinema, e sua atuação não poderia ser mais terrível, embora não se possa dizer se por culpa dos cineastas – não tão habituados a dirigir atores – ou se por pura incapacidade de Culkin. Num certo momento, o personagem de Culkin fala sobre como afirmam que ele seria superficial. Talvez isso se reflita no fato de que os coadjuvantes do filme, mesmo os menores, acabem por ser personagens que, ainda que em menor escala, causem um interesse maior ao filme - terminando em outro problema, que será o filme não conseguir preencher este interesse, por voltar em todo momento à figura desinteressante de Alig. É impressionante ver em algumas cenas a incapacidade, tanto dos cineastas quanto de Culkin, em darem algo ao personagem, ficando ainda mais claro quando ele divide cena com Chloë Sevigny (em especial a da banheira) e Seth Green (em qualquer cena). Aliás, Green é um dos grandes pontos do filme, sendo perfeito ao interesse dos diretores, calcando uma atuação que possui sim alguns tiques, mas tiques funcionais - nunca com tons de aberrações como Culkin.

Um dos rachas que se encontraram entre o documentário e este longa é esbarrar no dinamismo dos formatos. A busca no documentário é clara, e os cineastas mergulham nela – talvez particularmente fascinados por aquele mundo, é completamente compreensível o interesse da dupla em levar a frente a idéia. O problema é que aqui, onde baseiam-se no livro "Disco Bloodbath", escrito por James St. James (Green no longa), eles deixam atrofiar as idéias de retratar um mundo, aos poucos se perdendo numa busca incessante pela personalidade de um personagem que conheciam tão bem em primeiro momento, que foram capazes de construir nas primeiras cenas. Logo se perde o interesse naquilo que o filme se calca, e aquilo que a priori soava como ao menos um retrato bastante interessante e pessoal de algo, desaba em pura repetição tediosa.

Se aproximar do mundo que retratam e parecem conhecer bem enquanto pesquisadores (é impossível não notar os detalhes da direção de arte em buscar retratar com perfeição a época), com as escolhas formais feitas pela dupla, é um tanto complicado. Temos um show de cores e filtros mesclados com o mais simples digital, com a película bastante trabalhada junto à closes às vezes quase bizarros, em uma montagem que une agilidade e a necessidade de soar estranha, transformando o filme numa verdadeira experiência em histerismo - aprofundada a tal ponto em cenas como aquela em que o rato surge ao lado de Seth Green, que tornam seu lado histérico algo quase interessante. Mas, infelizmente são momentos casuais, a maioria do tempo não convencendo.

Além de um retrato sempre em dúvida consigo mesmo, se fascinado ou critico diante do que mostra, sua ambigüidade serve como chave para se notar o porquê James St. James é sempre tão mais interessante que Alig: os personagens trocam alguns diálogos discutindo à quem o filme pertenceria e fica claro no final que a intenção dos autores seria a de que embora se baseasse num livro de James, seu verdadeiro dono fosse a persona de Alig – mas fica ainda mais exposto no filme sua fragilidade, pois James parece sempre lhe estar tirando o filme em todos os momentos. Todavia, com todos os seus tropeços e diversos defeitos, Party Monster não deixa de ser um filme que atraia algum interesse, inclusive em seus maiores problemas.


Guilherme Martins