|
Sexo, Amor e Traição
Jorge Fernando, Brasil, 2003 |
|
Se Sexo, Amor e Traição não
chega a ser o mais inepto entre os filmes comerciais da
safra recente, pode-se dizer que ele assusta bem mais
do que a concorrência. Isto porque ele solidifica
um certo modo de produção bastante perigoso:
já faz algum tempo que a cada lançamento
de um filme com a marca Globo Filmes se segue uma recepção
onde a discussão sobre meio de produção/distribuição
supera de longe qualquer critério estético.
Estranha a posição do critico diante de
um filme desses, que se assume de forma tão clara
como produto de consumo rápido, o que de certa
forma parece empurrá-lo para uma análise
que passa ao largo de tudo que não se refira a
sua capacidade maior ou menor de comunicação.
Não deixa de ser alarmante (e um reflexo de um
certo subdesenvolvimento cinematográfico) que alguém
defenda o filme dentro da sua capacidade de comunicação,
que não deixa de existir (especialmente se comparada
a de filmes como Dom e Seja o que Deus Quiser),
mas que não mascara a incompetência do filme
como um todo.
O que impressiona em Sexo, Amor e Traição
é a sensação de desleixo que percorre
o filme todo: há um ar de preguiça que parece
transpassar todo o filme, como se a equipe, atores, diretor
estivessem satisfeitos em bater ponto durante toda a produção.
É difícil encontrar no filme um plano que
seja onde se sinta tesão da parte de quem está
realizando o filme. Sexo, Amor e Traição
se assemelha muito, já se disse, a algum especial
de duas horas da Globo. Deve-se dizer, porém, que
o problema do filme não é ser televisivo
(gosto bastante dos filmes do James L. Brooks, para ficar
num diretor quer começou na TV e de certa forma
nunca a abandonou), mas sim o fato de assemelhar a um
programa de TV muito ruim. Um capitulo de novela dirigido
pelo Jorge Fernando tem bem mais valor do que este filme
aqui.
Sexo, Amor e Traição originalmente
seria dirigido pela Mara Mourão. Olhando a relação
dos produtores percebemos que apesar do envolvimento de
Fernando e da Globo, o projeto foi desenvolvido pelo mesmo
time que nos trouxe Avassaladoras. Se aquele não
era um bom filme, compará-lo com Sexo, Amor
e Traição não deixa de ser interessante.
Porque, a despeito de todos os seus problemas, o filme
de Mara Mourão ainda fazia um uso bem melhor dos
elementos que lançava mão. Basta colocar
lado a lado a forma como Mourão (mesmo que não
sem limitações) conseguia construir seu
filme em torno de Giovana Antonelli, de uma forma que
Fernando não consegue com Malu Mader aqui.
Retornando ao inicio, ao observarmos incrédulos
Sexo, Amor e Traição em sua trajetória
ladeira abaixo percebemos que os produtos da Globo Filmes
finalmente chegaram aonde os seus críticos desde
o começo sempre temeram: um subproduto da TV. Subproduto
não por fazer uso de atores e fórmulas consagradas
nelas, mas por assumir que o cinema não merece
mais que algumas migalhas do esforço dedicado a
um programa de TV. Pena que na sala escura não
se possa passar para o SBT...
Filipe Furtado |
|
|
|
|
|
|