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Rogério Sganzerla, melhor de todos. As imagens que imputaram a Rogério Sganzerla sempre foram pequenas demais para caber o cineasta que atendia por esse nome. "Jovem gênio afoito", "futuro promissor", ou mais tardiamente "porra louca", "cineasta ultrapassado" ou "obcecado por Welles" foram mais tentativas de enquadrar (logo aprisionar) uma imagem fugidia do que um real esforço de compreensão do que se passava na vida e na tela ao longo da carreira de Sganzerla. Quarenta anos depois dos primeiros esforços do crítico cinematográfico que saiu de Joaçaba e polemizou nas páginas do Jornal da Tarde e d'O Estado de S. Paulo, Rogério Sganzerla morre a 9 de janeiro de 2004, deixando uma carreira cinematográfica errática após o surto criativo da Belair (três longas-metragens num ano). Errática, vale sublinhar, na periodicidade: o sopro do gênio mantém-se constante até o último fio de fotograma. Com O Signo do Caos, canto de cisne tão mítico e inspirado quanto A Idade da Terra de Glauber Rocha – cineasta com quem Sganzerla partilha estatura de obra e verve para a polêmica, novesfora a genialidade –, fecha-se uma obra grandiosa e que aponta para o futuro, harmônica mesmo com (e por causa de) todas as dissonâncias e circunvoluções que ela cria. Tarefa para nós, então, segui-la em toda sua grandeza e nas relações que seus filmes ainda vão fazer com o tempo presente (além de O Signo do Caos, que está para entrar nos cinemas ainda este ano, há Luz das Sombras, projeto a ser levado por Helena Ignez, musa e mulher de Rogério).

Esta edição é uma homenagem, e como tal ela se quer polifônica: além de textos dos redatores sobre a obra e os filmes, montamos uma pequena fortuna crítica dossiês sobre o lançamentos de diversos filmes , além de diversos textos do próprio Sganzerla ao longo de sua carreira de crítico e polemista. E, claro, com testemunhos de artistas que trabalharam com ele. O dossiê se completará na próxima edição, com trechos inéditos de roteiros (alguns, fundamentais, não-filmados) e mais depoimentos de colaboradores & admiradores.

Homenagem, também necessária, a Sylvio Renoldi, grande montador do cinema brasileiro e também colaborador de Sganzerla, que faleceu no dia 6 de fevereiro. Contracampo publica uma conversa entre o montador e o cineasta de O Bandido da Luz Vermelha, realizada em julho de 2001.

Entre o cotidiano morno e o luto, o ano cinematográfico nacional começa a esquentar: além de O Signo do Caos, destinado ao segundo semestre, em breve poderemos assistir a O Prisioneiro da Grade de Ferro (Paulo Sacramento), 33 (Kiko Goifman), Raízes do Brasil (Nelson Pereira dos Santos) e Filme de Amor (Julio Bressane). Vitalidade de um cinema que é ao mesmo tempo o algoz e a condição de redenção, em bocados sempre desiguais. Mas isso é que faz a graça e o gênio, entre outros os de Sganzerla e de Renoldi.

     
  Ruy Gardnier