Premonição
2,
De fato, pode-se mesmo afirmar que em termos de estrutura narrativa, este filme não é tanto uma continuação e sim uma refilmagem alterada do primeiro filme. Mesmo o início é igual: um personagem (aqui, uma jovem; no anterior, um jovem) prevê um acidente (aqui, rodoviário; no primeiro, de avião), que acaba por acontecer, e uma série de pessoas se salva por causa da previsão. Daí, logo se percebe que os sobreviventes são "procurados" pela Morte, e tenta-se entender como fazer para evitá-la. A diferença entre o primeiro filme e este pode ser mais simplesmente explicada por um simples dado biográfico: enquanto o diretor do primeiro era um veterano roteirista de Arquivo X e outras séries de TV no estilo, o deste filme entra no cinema como dublê. Ou seja: saem os climas esquisitos, escuros, e ainda eventualmente perturbadores, e entram as cenas elaboradas de assassinatos em sequência. O que o acidente aéreo do primeiro tinha de perturbador pela estranheza e clima claustrofóbico, o engavetamento tenta fascinar pela logística de produção envolvida, resultando numa sequência de pura hipnose cinética (lembrando muito a mega-perseguição de Matrix Reloaded no tipo de relação a estabelecer com o espectador). O problema para Ellis é que, uma vez que sua sequência mais emocionante fica logo no início, o resto do caminho se torna incrivelmente burocrático. E o jogo proposto ao espectador fica claro: imaginar as formas de morte mais criativas, inesperadas e fantásticas que se possa fazer. Reside aí talvez o único interesse do filme: uma vez estabelecida esta lógica, ele passa a funcionar quase como um cartoon, onde as cenas de morte lembram muito aqueles efeitos-dominó nos quais uma série de objetos vai criando uma sequência improvável de movimentos (terminando sempre, aqui, com alguma morte de teor muitas vezes cômico). Embora já houvesse sequências assim no primeiro filme (em especial a morte da professora), este passa a ser o tom dominante aqui. Talvez o que mais se possa lamentar no filme é a absurda transformação da morte num fenômeno cheio de regras (para dar aos personagens objetivos claros, e não apenas existenciais), onde a "vitória" sobre ela passe a parecer uma brincadeira de gincana soturna. Com essa ideologia que aproxima o filme muito mais da lógica do filme de ação clássico (uma "missão" a se cumprir), ficam deixado de lado seus componentes mais assustadores e de clima. Mas, isso talvez não fosse tão problemático se o filme não tentasse seguidamente engatar conversações pseudo-profundas sobre o destino e nossa possibilidade de controlá-lo. Com uma imaginação totalmente infanto-juvenil, fascinada pelas maquinações e articulações dos jogos audiovisuais de morte e violência, o filme sente culpa de sua própria força-motriz (ao contrário, de novo, de Pânico), e busca "contextualizá-la" com um suposto conteúdo de discussão "séria". Acaba diluindo uma parte sem dar consistência a outra, e se torna tão somente "mais um". Eduardo Valente |
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