A mansão mal-assombrada
Rob Minkoff, The Haunted Mansion, EUA, 2003
Criança sofre. Imagine ser obrigado a ver um filme como A Mansão Mal-Assombrada! Mesmo se não tiverem muita consciência do que estarão assistindo, os pequenos cérebros da garotada serão profundamente marcadas por um discurso barato de superação pessoal e demais considerações reacionárias. É o tal processo de deseducação, que muitos chamam de adequação para o mundo bacana que terão que enfrentar quando se tornarem adultos. É certo que nunca se pôde esperar de qualquer produção com o selo "Disney" um posicionamento crítico, por menor que ele fosse. Mas no caso da Mansão, o filme, que é uma comédia familiar, até chega a meter medo só que pela quantidade de colocações ideológicas nocivas. Fiquei todo assustado e arrepiado. Com o filme me deparei com o mal materializado na forma de produtores de cinema que não têm vergonha de construir um produto infantil e com ele embalar uma incrível quantidade de drogas.
Indo na direção contrária de Os Piratas do Caribe (também uma atração da Disney, feita para um pessoal mais crescidinho), A Mansão assume o clima de filme para todas as idades que sempre descamba para a pieguice típica. Com isso começa a enxurrada das mensagens de união e apego familiar que nenhum adulto agüenta mais. Soam ridículos e contraditórios os apelos do Papai Eddie Murphy para seu filho ser corajoso e capaz de matar suas aranhas” enquanto o filme faz sermão para que se deixe um pouco de lado esse mundo tão cruel de competição e trabalho intensos e se dê mais valor às coisas boas e baratas da vida, no caso, o convívio com as pessoas que se ama. Essa discrepância entre a realidade que prega e a que martela na cabeça das crianças é imoral. Como atrativo único para um público-alvo que julga estar interessado apenas em diversão visual, a produção se firma nos efeitos especiais de assombrações, para daí tirar as piadas protagonizadas, mais uma vez, por Eddie Murphy. Isso enche os olhos dos mais novos, mas toda a pirotecnia, quando associada ao roteiro recheado de furos, causa calafrios na espinha de qualquer espectador mais atento, revelando que o filme é uma grande picaretagem.
Prova de que as crianças precisam da supervisão de um adulto na hora de escolher o que vão ver no cinema... Tem muita gente por aí que não pensa duas vezes antes de embromar os inocentes. Aquele traficante de porta de escola que colocava cocaína em bala e era o terror da minha mãe quando eu era mais novo, pensando bem, não passa de um criminoso amador se comparado com os produtores desse filme.

João Mors Cabral