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Há cinco meses Habemus Papam estreou comercialmente no Brasil. É bem provável que maioria dos leitores, se não todos eles, já tenha se esquecido do filme e ido se atualizar com as novidades semanais que se acumularam de lá para cá. A essa altura, o filme talvez só fosse lembrado na hora das listas de fim de ano. É neste entreato, nesta distância esquecida, que, com ou sem intenção, a Contracampo vem trabalhando. A nós, parece-nos mais importante o que temos a iluminar com Nanni
Moretti do que praticamente tudo o que veio do circuito.
Moretti reúne todas as qualidades do que se pode chamar de um cineasta de fato: seus filmes aliam compromisso formal, visão de mundo e estilo pessoal. Por isso mesmo, é um cinema dotado de uma certa aridez daqueles que recusam a moda, o vocabulário comum e as referências cinéfilas estéreis. Num cenário de banalização cada vez maior das imagens e da própria autoria no cinema, parece-nos essencial apontarmos Moretti como alguém que se põe à altura das exigências que consideramos fundamentais no cinema. Habemus Papam deixa claro que Moretti deseja e é capaz de se abrir a temas grandes, que afetam uma massa mais anônima, mais múltipla, imersa mais profundamente na nossa sociedade, e não só a “grupinhos” que “reconhecem” um filme assinado por ele (o mesmo não podemos dizer de, por exemplo, Tim Burton). Não precisamos dizer isso só de Habemus Papam, mas também de seus filmes mais antigos, os do alter ego Michele, ou os cine-diários da década de 90: estes, apesar de diretamente associados à figura do Eu, não nos levam ao umbiguismo ensimesmado, mas a uma vontade, grande e inesperada, de arremessar este Eu no grande todo da realidade. Moretti jamais construiu para si, com seus filmes, um parque de diversões temático, de marca pessoal – e talvez tenha sido por medo de isso ocorrer, que, a partir de O Quarto do Filho, tenha decidido descentralizar e apagar ainda mais este Eu.
Nesta edição, como complemento aos textos dos redatores, incluímos também uma entrevista com o cineasta, da época do lançamento de A missa acabou. Com isso, queremos evitar o ensimesmamento crítico e abrimo-nos à própria visão e personalidade (para não dizer seu próprio espírito crítico) do cineasta.
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