O Gerente
, de Paulo Cezar Saraceni



Obituário sobre Carlos Reichenbach e texto sobre II Festival Lume de Cinema.
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Textos sobre J. Edgar (foto), As Aventuras de Tintim, A Alegria, entre outros, além de artigos sobre o Festival do Rio e a Mostra de São Paulo.
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Em primeiro lugar, é importante comentar as mudanças pelas quais a revista vem passando desde 2011, quando enfrentamos uma ampla ausência de atualizações. Vários foram os motivos para isso, o principal deles sendo uma mudança de editoria que se conclui com a chegada deste novo número. Como já foi possível perceber desde a edição anterior, a coluna independente para críticas dos filmes em cartaz foi retirada. Isso se deu, em parte, porque o corpo da redação já não mais acompanhava o ritmo das estreias (tanto por disponibilidade quanto por exigências e prioridades cinéfilas pessoais) e, em maior parte, porque queríamos frear o fluxo incessante do calendário comercial e poder nos reter nos filmes e acontecimentos que nos interessavam mais verdadeiramente. É por isso que ainda disponibilizaremos uma seção sobre o circuito dentro das pautas, a respeito dos filmes que estrearam no intervalo entre uma pauta a outra e sobre os quais sentimos a vontade de se debruçar. O mesmo vale para a seção sobre o Festival do Rio e a Mostra de São Paulo, eventos que anteriormente também tinham coberturas anuais e que ganham reflexões póstumas aqui nesta mesma edição. Por último, há o Plano Geral, que fica reservado a atualizações mais frequentes com reflexões individuais dos redatores, respondendo a sua relação cotidiana com o cinema.
 
Nesta edição, trazemos Paulo Cezar Saraceni. Cineasta cujo reconhecimento parece se manter às custas de um desses “marcos históricos oficiais” que é O Desafio (o famoso filme que antecipa Terra em Transe e uma fase mais desiludida do Cinema Novo), Saraceni não é exatamente uma unanimidade mesmo aqui na Contracampo, onde sempre foi pouco citado, quando não mal falado. Seu pouco reconhecimento, embora este aspecto não lhe seja particular no panorama tão ignorado do cinema brasileiro, revela-se notadamente em uma visita à locadora, onde apenas um de seus doze longas encontra-se disponível em DVD (Anchieta, José do Brasil), relegando o acesso à sua obra a eventuais exibições na televisão fechada ou no circuito alternativo das salas de cinema e, sobretudo, a algumas cópias sucateadas na internet – um filme como O Viajante, por exemplo, não se encontra onde quer que seja, o que impossibilitou o seu acesso pelo corpo de redação.

Seu cinema, mais solitário, mais silencioso, de um estilo contemplativo e de paisagens desoladoras, é próximo de Humberto Mauro, a quem Saraceni constantemente evocava, conscientemente ou não, em Porto das Caixas, A Casa Assassinada, Ao Sul do meu Corpo, O Viajante. Já O Gerente, seu filme mais recente, ainda inédito no circuito um ano após ter sido exibido ao público pela primeira vez, apresenta um caráter mais agressivo e violento (como diz Luís Alberto Rocha Melo em seu texto sobre o filme), de um tom forte, meio desgovernado e imperfeito, como na tradição do cinema marginal. Foi-se o tempo de evocar Humberto Mauro. Neste filme, Saraceni mistura horror, desdém ou simplesmente galhofa para reforçar sua posição de liberdade frente ao presente. Não pertencendo ao nosso tempo (e este não o tendo aceito), ele sai do tempo para encontrar esta zona inesperada, um abismo que separa o presente do passado e que parece não habitar nenhum dos dois tempos. Está aí a solidão do artista. Ao revisitar Saraceni, a Contracampo quer almejar um pouco desta liberdade e solidão do realizador de O Gerente.

 
     
  Calac Nogueira e João Gabriel Paixão  
     
  Janeiro de 2012