A VIDA DOS PEIXES
Matías Bize, La Vida de los Peces, Chile/França, 2010

Ao que podemos julgar pelos filmes que chegaram ao Brasil, Matías Bize vem se tornando um cineasta especialista em trabalhar com cenários de ação limitada. Em Na Camatínhamos um quarto de motel. Aqui em A Vida dos Peixes uma casa durante uma festa. É nessa festa que o jornalista Andrés, chileno há muito tempo radicado na Europa, vem a reencontrar amigos e um grande amor, Beatriz. O diretor pretende focar com sua câmera apenas o essencial, concentrando-se nos personagens, sendo os cenários da casa apenas esboçados com o objetivo de localizá-los espacialmente na ação. Essa idéia de cinema que se propõe enxuto em recursos narrativos nos traz a memória que, para o bem ou para o mal, a herança do Dogma 95 permanece viva.

Felizmente Bize e suficientemente inteligente para não se ater às limitações inerentes ao Dogma. Utiliza-se de conceitos para impor sua visão pessoal, demonstrando com isso bastante competência como encenador. Tem domínio de imagem para transmitir de forma coerente a idéia explícita em seu título: comparar seus personagens a peixes num aquário, fazendo que sua câmera percorra um fluxo coerente, acompanhando Andrés, que não consegue ir embora da festa, apesar da sua intenção declarada em ficar pouco tempo. Ao se deparar com rostos e figuras do passado, o protagonista vai sentindo-se cada vez mais preso num universo ao qual acreditava não mais pertencer.

Entretanto, se o Bize diretor demonstra talento para a criação de um universo no campo visual e sonoro, A Vida dos Peixes carece de um trabalho mais forte do Bize roteirista. Se a idéia de um retorno aos amigos do passado e a lembrança do suicídio de um deles traz a memória a influência de O Reencontro, de Lawrence Kasdan, filme emblemático da década de 1980, não temos aqui igualada a originalidade do roteiro de seu possível modelo. O roteiro de A Vida dos Peixes, com seu tratamento episódico e seu clímax com a tentativa de reatamento de um romance frustrado, limita-se a uma série de situações clichês que minam bastante a força da talentosa mise-en-scène de Bize.

Gilberto Silva Jr.


 Outubro de 2010