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Brasil
anos 2000
Em
abril/maio deste ano, aconteceu a mostra
“Clássicos e
Raros do Nosso Cinema”, nos CCBB's de São Paulo,
Rio de
Janeiro e Brasília, e também na Cinemateca
Brasileira.
Entre os títulos “raros” que receberam
cópias
novas e foram (re)apresentados ao público, filmes como Damas
do Prazer (Antônio Meliande, 1978), Os Desclassificados
(Clery
Cunha, 1972), Perfume
de Gardênia (Guilherme de Almeida
Prado,
1992) e Ninfas
Diabólicas (John Doo, 1978), além
de se
provarem extraordinários, nos chamaram a
atenção
para um cinema brasileiro que não existe mais. Ficou claro
que
esses filmes não podiam passar em branco, tamanho o impacto
que causaram sobre os membros da redação que
tiveram a
oportunidade de vê-los. Era preciso escrever sobre eles. E
à medida que os textos foram escritos, o
óbvio
se escancarou: havíamos refletido não apenas
sobre os
filmes vistos, mas sobre a situação atual do
cinema
brasileiro. Como conseqüência natural, inserimos a
pauta
sobre a mostra “Clássicos &
Raros” no contexto
de uma revisão do cinema brasileiro da última
década
e de uma tentativa de pensar o cinema feito hoje, percebendo que
trata-se tudo de uma única e mesma questão.
Após
uma década de aparente indefinição, em
que
traçar tendências e delinear caminhos era tarefa
difícil, demandando certo esforço e acarretando
facilmente equívocos, o cinema brasileiro parece ter ganho
um
rosto mais perceptível. Os desafios que enfrentamos no livro
Cinema Brasileiro: 1995-2005 - Ensaios Sobre
uma
Década
(Rio de Janeiro: Azougue, 2005) se colocam de outra forma. Agora existe
uma cena, existe uma
determinada circulação de
ambições e
projetos, e não apenas a vagueza de uma ou outra linha
frouxa
de união entre meia dúzia de filmes. Os
últimos
cinco anos dos anos 2000 deram uma forma mais visível
à
década. A emergência da crítica de
cinema como
uma atividade equiparável à
realização,
aliada à multiplicação assombrosa de
festivais
de cinema por todo o país, criou um espaço de
circulação, repercussão e
legitimação
que a década de 90 não conhecia. Seguimos
incapazes de
afirmar a produção cinematográfica
brasileira
como estável, organizada ou minimamente industrial, mas um
novo estado das coisas acompanha a geração que
emergiu
nesta última década. O cinema brasileiro
antenou-se com
o que é feito no restante do mundo e busca agora inserir-se
neste magma mais ou menos indefinido do “cinema
contemporâneo”.
Os
lucros parecem muitos, em relação ao passado
recente,
mas as perdas também o são. A
distribuição
tornou-se um verdadeiro entrave, afastando ainda mais o cinema
brasileiro de seu público. Circulando em espaços
restritos, entre seus pares, os filmes se distanciam de uma
perspectiva de diálogo concreto com a sociedade. Em
paralelo,
a preocupação com a dramaturgia parece ter
desertado
nossas ficções.
Esses
e outros temas pautaram o bate-papo que marca o retorno de nosso
tradicional Cinema Falado (desta vez não só sobre
o
ano, mas sobre a década). O que buscamos nos textos e na
longa
conversa que compõem esta edição
é
simplesmente refletir sobre a realidade do cinema brasileiro
–
o clássico, o raro, o novo, o novíssimo, o que
ainda
está para existir.
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