ELA, A CHINESA
Guo Xiaolu, She, a Chinese, Reino Unido/França/Alemanha, 2009

Existe algum problema relativamente grave em um filme quando uma personagem atravessa diversas fases, passa por vários lugares diferentes, estabelece mil relações com outros personagens e, ainda assim, ela parece completamente desprovida de uma história – no sentido de algo que é carregado pela personagem, que deixa marcas, que a transforma. Talvez porque a história de Mei, a personagem deste filme da diretora chinesa Guo Xiaolu, seja alguma coisa completamente geral, e nada particular. Ela, a chinesa: é uma categoria, uma idéia, uma figura de bom uso para as ciências sociais; nunca uma pessoa.

Fica impossível, diante disso, sustentar toda e qualquer simpatia que se possa ter pelo filme. E, da minha parte, eu tenho: o filme guarda um niilismo adolescente admirável, uma frontalidade e uma clareza no discurso (e nas idéias) que me fazem realmente querer gostar dele. O problema é que na maior parte das vezes também parece um filme pensado por um adolescente: se algumas vezes as piadas conferem a ele um certo ar de não-levar-se-a-sério saudável, como um todo o filme não engata – é liso e superficial demais; tudo se dissolve e desaparece com a entrada e a saída das cartelas. E quando a narrativa estaciona um pouco em Londres (quando Mei casa-se com um velho inglês aposentado), o filme não consegue construir nada (um afeto, um drama, uma melancolia ou um escárnio conclusivo). Mais valeria seguir com o ritmo veloz (quem sabe chegar até a América) e implodir-se na própria revolta.

Calac Nogueira


 Setembro de 2010