Existe
algum problema
relativamente grave em um filme quando uma personagem atravessa
diversas fases, passa por vários lugares diferentes,
estabelece mil relações com outros personagens e,
ainda
assim, ela parece completamente desprovida de uma história
–
no sentido de algo que é carregado pela personagem, que
deixa
marcas, que a transforma. Talvez porque a história de Mei, a
personagem deste filme da diretora chinesa Guo Xiaolu, seja alguma
coisa completamente geral, e nada particular. Ela, a chinesa:
é
uma categoria, uma idéia, uma figura de bom uso para as
ciências sociais; nunca uma pessoa.
Fica
impossível,
diante disso, sustentar toda e qualquer simpatia que se possa ter
pelo filme. E, da minha parte, eu tenho: o filme guarda um niilismo
adolescente admirável, uma frontalidade e uma clareza no
discurso (e nas idéias) que me fazem realmente querer gostar
dele. O problema é que na maior parte das vezes
também
parece um filme pensado por um adolescente: se algumas vezes as
piadas conferem a ele um certo ar de não-levar-se-a-sério
saudável, como um todo o filme não engata
– é
liso e superficial demais; tudo se dissolve e desaparece com a
entrada e a saída das cartelas. E quando a narrativa
estaciona
um pouco em Londres (quando Mei casa-se com um velho inglês
aposentado), o filme não consegue construir nada (um afeto,
um
drama, uma melancolia ou um escárnio conclusivo). Mais
valeria
seguir com o ritmo veloz (quem sabe chegar até a
América)
e implodir-se na própria revolta.
Calac Nogueira
Setembro de 2010
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