LÍBANO
Samuel Maoz, Lebanon, Israel/França/Líbano/Alemanha, 2009

Líbano um filme que parte de um conceito que se pressupõe original: reproduzir as sensações claustrofóbicas de combate no interior de um tanque de guerra. Tal conceito por si só parece impressionar determinadas audiências, como o júri do Festival de Veneza 2009, que lhe concedeu o prêmio máximo. Mas seria somente este único pressuposto suficiente para que o filme se sustente? Para buscarmos uma resposta, vamos pensar Líbano como um todo, buscando demais aspectos que extrapolem o conceito em si.

Samuel Maoz vem dialogar diretamente com outros exemplares do cinema israelense e mundial, em especial Kippur, de Amos Gitai. Como este último, vemos a repentina convocação de soldados para um novo combate – aqui a primeira guerra no Líbano, em 1982. Os personagens de Maoz partem em seu tanque para uma nova missão, tendo uma trajetória a cumprir. A primeira parte de Líbano se mostra mais atenta ao que ocorre nos combates exteriores que ao interior do tanque. Os combates e ações militares são vistos pela ótica do visor do carro de combate, que atua como um microscópio, ampliando os horrores vistos pelos soldados. O diretor demonstra uma intenção de chocar o espectador, esfregando-lhe na cara de forma bastante explícita e apelativa cenas de tragédia e mutilação. Ora, todos sabemos que a guerra é uma coisa escrota e isso não precisa ser salientado através de uma mise-en-scène que beira a abjeção, tornando-se intolerável após o momento em que uma mulher nua e desesperada pela morte da filha fita a câmera/visor do tanque numa imagem prolongada em demasia.

Felizmente Maoz abandona esse cinema “mundo-cão” depois de meia-hora, retomando sua proposta inicial: concentrar a ação no huis-clos claustrofóbico vivido pelos soldados. Se o filme toma a partir daí o potencial de tornar-se mais interessante ou original, toda a idéia parece não ser concretizada em sua totalidade, em especial pela inexperiência do diretor/roteirista. Não temos um delineamento coerente dos personagens e as situações que esses atravessam parecem apenas esboçadas, num roteiro bastante confuso. E se a idéia fosse essa confusão reforçar aquela vivida pelos personagens, torna-se um tiro fora do alvo. A tão propagada sensação de claustrofobia também não se transmite totalmente. A câmera de Maoz não fornece uma visão de conjunto das limitadas dimensões interiores do tanque e falta ao diretor domínio para realizar uma adequada decupagem de seus planos e seqüências.

Com isso nos vemos diante de um filme cujo resultado final se vê bastante distante de sua proposta. Só para ficarmos em um exemplar do cinema de guerra isralense, Beaufort de Joseph Cedar (2007), apesar de passado em um quartel, é muito mais eficiente em transmitir uma sensação de claustrofobia. Líbano parece uma prova cabal do fato de que é necessário muito mais que apenas um conceito para que se faça um bom filme.

Gilberto Silva Jr.


 Outubro de 2010