Os pinguins do papai
Mark Waters, Mr. Popper's Penguins, EUA, 2011

O pior filme de Jim Carrey nos diz mais do que qualquer comédia brasileira atual. Seja do cinema ou televisão (uma exceção: Hermes e Renato/Banana mecânica). Nos diz não, aliás. Mostra. Como se sabe, Carrey é comediante da imagem, não da palavra – ainda que lide muito bem com ela.

Diferente do humor de cara fechada atualmente em moda no nosso país, que tem na figura de Rafinha Bastos e Bruno Mazzeo dois representantes – e que, por comparação, fariam de Jake La Motta o homem mais engraçado do mundo – Jim Carrey é capaz de usar mais do que apenas as cordas vocais para fazer humor. Do infinito inventário de caretas, que a cada novo trabalho apresenta uma diferente combinação entre uma boca torta e uma sobrancelha repuxada, ao modo de andar, passando pela maneira de cair (o prazer primitivo de se ver alguém levar um tombo é potencializado em cem vezes com Carrey): tudo nele é engraçado. Que Bastos e Mazzeo sigam uma tradição de comédia diferente, à qual eles aderiram com no mínimo vinte anos de atraso, é inegável. No entanto, isso não impede a comparação. Afinal, a comédia é também uma forma de amor (pelo próximo) e, sendo assim, como o amor, tem uma só natureza, independente de variações. Amor louco ou tolo: no fundo, não há diferença.

Há muito amor hollywoodiano em Pinguins do papai, claro. Aquele amor didático, construído passo a passo, com a ajuda redundante de quase todo elemento visual possível, que mostra a trajetória do homem que esquece a família, é posto em contato com algo que o faz perceber que sua vida é um lixo, e, magicamente, retorna à família, para amá-la eternamente. Não há verdade nisso tudo, nunca há, e não esperamos que haja mesmo. Então, a vantagem de se ter um comediante como Carrey é que se pode preencher a tela com algo genuíno, com alguma evidência concreta de todo aquele amor que, supostamente, é o tema do filme. Carrey ama o riso e Mark Waters é sábio o suficiente para não sentir ciúmes e tentar interferir nesta relação. Há até uma ou outra ideia inventiva por parte dos realizadores, como a cena em que os pinguins deslizam pelas passarelas do Guggenheim, em meio a janotas vestindo smokings (pinguins gigantes). Mas, perto de Carrey fingindo correr em câmera lenta ou beijando a mão de uma velha, isso é nada.


Wellington Sari


 Julho de 2011