Para
um filme ter qualquer tipo de impacto – seja ele
político
ou emocional – é imprescindível que
haja nele um
sentimento de mundo, mais ou menos autêntico, em
trabalho. Mesmo
naqueles que não
passam de uma combinação de efeitos rasos de
superfície
deve haver alguma ideia de universo coeso a servir de base para a
narrativa e âncora para o espectador. Quando isto
não
ocorre, temos um filme verdadeiramente descartável:
é o
caso de London
River.
Rachid
Bouchareb
costura uma série de dados que
“conceitualmente”
constroem um sentido e enunciam um discurso por si só, sem
que
haja necessidade alguma da matéria dramática. Um
jovem
casal cujo contraste “grita” aos olhos de qualquer
um –
um negro e uma moça alva de cabelos ruivos – se
engajam
em aulas de árabe e frequentam uma mesquita numa
metrópole
europeia (Londres); e pouco depois morrem, provavelmente apaixonados,
num atentado terrorista reclamado por um grupo fundamentalista
islâmico. Seus pais (e duplos) – a mãe
dela e o
pai dele – são reunidos pelo desaparecimento dos
filhos
e unidos pela dor mútua, rompendo as barreiras da
desconfiança
e dos pré-conceitos para constatar a faceta humana universal
de que comungam.
O
leque (restrito) de
sentidos intencionado está todo aí; a imagem
é
um adendo. As situações pouco ajudam para criar
personagens com espessura propriamente dita, e servem apenas de
ilustração para as ideias contidas no
arcabouço
narrativo delineado acima. Pergunta-se então: de que adianta
o
trabalho de excelentes atores, se nem as cenas tomadas
individualmente conseguem ter alguma força
dramática e
emotiva? London River é quase uma
caricatura pálida
do cinema de arte contemporâneo capaz de justificar sua
existência apenas por algumas linhas de argumento.
É o
reino pobre do conteúdo.
Tatiana Monassa
Janeiro de 2011
|