Peça obsoleta na
atual engrenagem hollywoodiana, um filme de ação simples e direto como Fúria
Sobre Rodas, em que: a) enxergam-se os atores quando estes estão lutando ou
disparando armas de fogo; b) há uma decupagem clara e
precisa; c) constroem-se cenas, mereceria defesa simplesmente por sua
existência. É reconfortante saber que este gênero de ação, com heróis dirigindo
carros velozes e disparando frases com a mesma concisão e precisão com que
disparam um revólver, sobrevive no mundo cinematográfico em que ou se é um
“autor” ou se é um megalomaníaco infantilóide.
Patrick Lussier, definitivamente, não pertence a
estas categorias. O cineasta é um artesão. Nada mais.
Não há
sensibilidade artística a ser desvendada em Fúria Sobre Rodas. Não há
como, por meio da mise en scène, descobrir um autor – algo que já foi
o esporte favorito dos homens. O que não significa, por outro lado, uma
ausência desta arte perdida. Em diversos momentos, sua construção gira em torno
de clichês cool, principalmente quando Nic Cage está em cena – parecendo sempre caminhar um passo à frente da decupagem, sempre dominando o espaço do plano como uma
pantera. Em outros, quando vemos o Contador (William Fichtner),
terno alinhado e postura solene, o que se enxerga são clichês que se acumulam
para, em determinado ponto, explodirem em algum tipo de emoção. No caso deste
personagem, a emoção é o riso: o trecho mais engraçado de Fúria Sobre Rodas – quando o Contador dirige um caminhão tanque em direção a uma barreira
policial - só é possível porque até então a câmera o exibia como o sujeito
bastante elegante. Não estávamos preparados para vê-lo na boléia de um veículo grande, ao som de That´s the way i like it. A mise en scène artesanal é isso: o simples posicionar de
corpo do ator em determinado espaço (a cabine do caminhão), em determinada
escala (um plano médio) em função de uma singela piada.
Um tanto de subversão, como um Satanás descrito de maneira positiva, muscle cars e trocas de tiros durante um cena de sexo em que a mulher é exibida nua, evidentemente,
e o herói, além de estar todo vestido,
tem um charuto na boca e óculos escuros, certamente são bem vindos, também.
Wellington Sari
Abril
de 2011
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