TOKYO!
Bong Joon-ho, Leos Carax, Michel Gondry, Tokyo!, França/Japão/Alemanha/Coréia do Sul, 2008

Se há alguma coisa que diferencie Tokyo! dos demais e inesgotáveis filmes-de-episódio é a coesão. São somente três episódios – demonstração de carinho com a paciência do espectador –, e todos seguem uma mesma linha de comédia-fantástica de tom descontraído. Com uma metragem muito mais flexível, os cineastas estão mais à vontade para alcançar a respiração própria do desenvolvimento dramático e de suas mises en scène. Este domínio se percebe claramente em Leos Carax. Estabelecendo uma situação inicial absurda, ele extrai o máximo de possibilidades do enredo, e sem restrições ao ridículo. Menos em Bong Joon-ho, que se vale de uma solenidade inesperada que termina por carregar um peso simbólico e uma “justificativa” ao non-sense. Finalmente, Gondry passa a impressão de ter se lembrado, em plena realização, da necessidade de incluir um elemento fantástico ao projeto. Este elemento surge, então, brusca e aleatoriamente, sem que o “aleatório” torne-se valor de compra – neste momento, vem à lembrança o caso de Ricky, de François Ozon, em que uma mudança repentina é recebida em toda a sua dimensão de aleatoriedade – e sem eliminar seu demagogo enfoque inicial sobre o futuro dos jovens.

Todos os três elastificam à sua maneira as premissas dos elementos fantásticos, demonstrando menos um despojamento do que uma certa preguiça de se deter na repercussão que estes elementos trariam para a cena. Se em filmes como Cada Um Com Seu Cinema, a aventura do espectador é estampar os mais variados rótulos do cinema autoral, aqui o processo está mais para reduzir os três episódios a um mesmo denominador comum. Em ambos – e isso pode ser estendido a quase todos os filmes deste tipo de projeto –, o rebaixamento do espectador a um consumidor esfomeado de “cinema”, do amor cauteloso à gula grosseira do marketing cultural, de um prazer particular e exclusivo ao entorpecimento da generalização. E por que não estender isso a boa parte dos festivais de cinema? O que reina é a histeria, um sentido difuso de “diversidade”, a aflição por conhecimento, mesmo que este já tenha se generalizado e se perdido.


João Gabriel Paixão