|
Johnnie
To; Paul Newman
De um lado, um cineasta do maneirismo, das formas voláteis,
dos movimentos que desafiam a apreensão do olhar e parecem
extrapolar os limites do espaço; de outro, um cineasta dos
espaços fechados, do plano paciente e controlado, da cena
teatral e das nuances de expressão dos atores. Um que se
destaca cada vez mais no cenário
contemporâneo,
outro praticamente desconhecido, embora um dos rostos mais
emblemáticos do cinema. Por que falar de Johnnie To e Paul
Newman? A resposta é simples: porque cada um deles responde
a
reflexos diferentes do olhar crítico, reflexos estes que
buscamos expandir ao máximo em nosso esforço de
encontrar o cinema, quer nos
lugares facilmente
à
vista, quer nos recantos onde não se costuma
procurá-lo.
Escrever sobre os filmes de Paul Newman como diretor
é também nossa forma de homenagem
póstuma a este
grande ator e cineasta. Homenagem tardia, pois completa agora um ano
de sua morte. Depois de toda a mídia cobrir o
“evento”
ostensivamente, depois de seu nome figurar em manchetes diversas a
torto e a direito. É neste momento em que ninguém
sente
mais o choque da notícia, já empoeirada por
tantas
outras que a suplantaram, que podemos melhor encontrar olhos para ver
esta curta obra relegada às coulisses da
história
do cinema. Obra de extraordinária coerência
interna e de
um frescor insuspeito, que revela um cineasta do mais alto grau, em
completa mestria do seu meio. Cineasta das
emoções e da
matéria humana. Justo o que falta a uma imensa parcela do
cinema contemporâneo, cada vez mais embevecida do
próprio
fazer-cinema, cada vez mais “próxima” da
intimidade dos personagens, mas na verdade apenas raspando a
superfície
dessa arte tortuosa que é a da apreensão dos
sentimentos.
Johnnie
To, ao
contrário do que pressupõe um olhar
debruçado
somente sobre os filmes recentes do diretor, já demonstrou
conhecer as curvas perigosas desse caminho sentimental, basta ver seu
extraordinário melodrama All About Ah Long (1989).
Os
textos que aqui trazemos abarcam todos os períodos de sua
imensa e prolífica obra. Se alguns dos aspectos que mais
admiramos no diretor de The Big Heat (1988)
parecem
anestesiados em Sparrow (2008), outros
definitivamente atestam
uma evolução do seu estilo e situam Johnnie To na
proa
do que quer que se entenda por cinema de gênero hoje em dia.
Nesta
edição
sustentada por duas balizas aparentemente distantes uma da outra,
tudo que temos para oferecer ao leitor é o que sempre foi e
sempre será nosso único interesse: os
prolongamentos do
cinema sob a forma de pensamento crítico.
|
|