Mickey
Rourke caiu de
novo nas graças do público de cinema, e
não se
pode dizer que é um disparate. Hoje já se tornou
possível ouvir um comentário (como o que ouvi
quando me
dirigia à sala de cinema) de um espectador interessado:
“olha
o poster do novo filme do Mickey Rourke, tô querendo ver, ele
é
muito massa”.
Curiosamente,
Killshot
- Tiro Certo, que estreia meses depois de O Lutador,
foi
filmado antes, mas teve seu lançamento adiado em dois anos.
Se
há algo em
comum entre os dois filmes é a incrível
capacidade de
Rourke de indicar o caminho, modular sua atuação
com o
restante do elenco e facilitar, assim, o trabalho do diretor na
condução dos atores. Hitchcock dizia que ator
é
gado – numa frase mal interpretada por muitos – e,
no
caso, o boiadeiro é Rourke.
Dessa
afirmação,
o óbvio está implícito, apesar que de
tão
óbvio se torna explícito: quando o ator
não está
em cena, o filme parece não ter rumo, como um cão
privado de seus sentidos. É fácil perceber isso
nas
cenas que envolvem Diane Lane e Tomas Jane (ótimo ator que
já
havíamos visto em ótima forma no excelente O
Nevoeiro). Sente-se que algo está ausente, um
ponto de
vista, provavelmente, o que enfraquece tremendamente a crise que
incomoda a relação.
Não
é
culpa dos atores. Diane Lane esbanja charme e sensualidade, e Thomas
Jane cai muito bem como o cara errado em lugar e hora errados. O
problema é que sentimos falta de Rourke, da
modulação
que ele imprime às cenas, que ajudam, e muito, a driblar
certas soluções preguiçosas. A
opção
de deixar a trama baseada em Elmore Leonard num tom bem
próximo
de um realismo de asfalto, quase um cinema físico, deixa a
coisa toda ainda mais complicada, pois é
necessário
experiência dos atores com esse tipo de trabalho.
Experiência
que só Rourke parecia ter em Killshot. A
longa
sequência final, por exemplo, com o comportamento de
câmera
sendo o mais manjado possível, seria um porre com um ator
menos carismático no lugar dele.
Se o
filme de John
Madden é dependente demais de um ator, e se o diretor mais
uma
vez não consegue fazer triunfar suas habilidades artesanais
(já parcialmente demonstradas em filmes passados, como o
premiado e irregular Shakespeare Apaixonado) dentro
de uma
trama que pedia justamente esse tipo de habilidade, há ao
menos um momento de brilho raro, desnecessário dizer por
conta
de quem.
Os
dois matadores saem
para uma viagem. Richie tinha aprendido com Blackbird que
não
se pode deixar testemunhas, e que o envolvimento com outra pessoa
é
extremamente prejudicial. Mas Blackbird se envolve com a namorada do
mais novo, e não tem coragem de matá-la na
despedida.
Richie percebe que uma testemunha sobrava, sai do carro, e
só
vemos o rosto de um ator demasiadamente humano, e o barulho de um
tiro. Em jogo o envolvimento inesperado de Blackbird com a
moça,
e o ciúme de Richie, por sentir que houve algo entre os
dois.
Num mundo perfeito, esse seria o clipe de um Oscar merecido.
Sérgio Alpendre
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