Varsóvia SOMBRIA
Christopher Doyle, Warsaw Dark/Izolator, Polônia, 2008

O filme começa com música sexy (Chan Marshall aliás Cat Power) numa boate de prostitutas chiques. Depois de alguns diálogos climáticos e que não conseguimos inscrever no espaço-tempo da imagem, nasce uma intriga de conspirações, assassinatos, motivos excusos e um enorme clima de mistério. No campo visual, profusão de câmeras de vigilância, imagens de celular sendo transmitidas e vistas em tempo real. Acrescente a isso vaivéns temporais, flashbacks repetindo cenas e falas na tentativa de reconstrução da memória. Se a gente pega tudo isso descrito dessa forma, dá pra justificar se Abel Ferrara quiser processar Christopher Doyle por um plágio descarado de New Rose Hotel/Enigma do Poder. Mas nem precisa se dar o trabalho: Varsóvia Sombria é um filme tão desajeitado, tão infeliz em sua tentativa de construir um suspense indiscriminado e climático que seria dar atenção a quem evidentemente não merece. Não que se saia do filme revoltado, o oposto: é mais uma sensação de indiferença com um imaginário já gasto de filme de cativeiro e com a tentativa falhada de criar um exercício a partir de atmosferas e suspense abstrato (aos detratores de Inland Empire/O Império dos Sonhos aconselhamos a visão de Varsóvia Sombria para melhor compreender tudo que há de excitante e magistral no filme de Lynch), sem a menor capacidade para construir leveza e ritmo a seu filme, a despeito de ter sido diretor de fotografia - excelente, diga-se - de Wong Kar-wai e Gus Van Sant. Falta o toque do diretor de cinema, do homem com uma visão. No máximo, teremos isso no último plano, aliás copiado de Paranoid Park. Tarde demais.

Ruy Gardnier