O
filme começa com música sexy (Chan Marshall aliás
Cat Power) numa boate de prostitutas chiques. Depois de alguns
diálogos climáticos e que não conseguimos
inscrever no espaço-tempo da imagem, nasce uma intriga de
conspirações, assassinatos, motivos excusos e um enorme
clima de mistério. No campo visual, profusão de
câmeras de vigilância, imagens de celular sendo
transmitidas e vistas em tempo real. Acrescente a isso vaivéns
temporais, flashbacks repetindo cenas e falas na tentativa de
reconstrução da memória. Se a gente pega tudo isso
descrito dessa forma, dá pra justificar se Abel Ferrara quiser
processar Christopher Doyle por um plágio descarado de New Rose Hotel/Enigma do Poder. Mas nem precisa se dar o trabalho: Varsóvia Sombria
é um filme tão desajeitado, tão infeliz em sua
tentativa de construir um suspense indiscriminado e climático
que seria dar atenção a quem evidentemente não
merece. Não que se saia do filme revoltado, o oposto: é
mais uma sensação de indiferença com um
imaginário já gasto de filme de cativeiro e com a
tentativa falhada de criar um exercício a partir de atmosferas e
suspense abstrato (aos detratores de Inland Empire/O Império dos Sonhos aconselhamos a visão de Varsóvia Sombria
para melhor compreender tudo que há de excitante e magistral no
filme de Lynch), sem a menor capacidade para construir leveza e ritmo a
seu filme, a despeito de ter sido diretor de fotografia - excelente,
diga-se - de Wong Kar-wai e Gus Van Sant. Falta o toque do diretor de
cinema, do homem com uma visão. No máximo, teremos isso
no último plano, aliás copiado de Paranoid Park. Tarde demais.
Ruy Gardnier
|