|
Reencontramos aqui uma certa simplicidade originária do
impulso crítico: falar dos cineastas que, num dado momento, por um dado fator
ou conjunto de fatores, nos impelem a querer saber um pouco mais sobre o cinema
e, claro, sobre nossa própria atividade crítica. O rigor – obrigação de todo
crítico – começa na definição de prioridades. Desta forma, a escolha de Joseph
Losey, natural, sem cálculo prévio, provou-se um tanto coerente com esta busca
de exigência, derivada simplesmente do desenvolvimento de uma relação com o
cinema ao largo dos modismos e do senso comum.
Por que falar de Joseph Losey hoje? Sugerimos duas formas de
resposta. A primeira é assistir a qualquer um dos seus longas-metragens
realizados entre 1948 (ano de O Menino dos Cabelos Verdes) e 1985 (A
Sauna). Certamente alguns filmes responderão melhor que outros, e não por
acaso nos permitimos o exercício prazeroso – porém não menos exigente – de
complementar a pauta dedicada ao cineasta com uma lista dos nossos prediletos.
A segunda forma é convidá-los à leitura dos textos que apresentamos aqui, tanto
os nossos, escritos agora, em 2008, como aqueles que Jacques Serguine e o
grandioso Michel Mourlet (que gentilmente nos autorizou a publicação) outrora
escreveram.
Complementando a edição, além de nossas tradicionais
reflexões e da carta de nosso correspondente nova-iorquino, temos textos sobre
o falecido Robert Altman, objeto de uma recente mostra retrospectiva que passou
por São Paulo e pelo Rio de Janeiro – oferecendo a sempre preciosa oportunidade
de entrar em contato com a totalidade de uma obra extensa. E, ainda, dois
artigos sobre o jovem animador americano Don Hertzfeldt, que, contabilizando
oito curtas-metragens nos últimos treze anos (sendo o último ainda inédito), se
afirma como um dos mais importantes realizadores contemporâneos. Dono de uma
feroz verve crítica e de um impulso anárquico cada vez mais raro, Hertzfeldt
leva a prática da animação a limites surpreendentes, utilizando-se de técnicas
mistas (sempre analógicas), e desafiando sensibilidades pré-formatadas numa
afronta incessante a todo tipo de normatização.
O leitor notará que alguns termos acabaram se tornando
palavras-chave das pautas e, por conseguinte, deste editorial: lucidez, paixão,
exigência, no caso de Losey; radicalidade, afronta, no caso de Hertzfeldt.
Essas palavras servem de marcos para um caminho que, se antes já buscávamos
trilhar, agora será perseguido com atenção redobrada. O preço dessa exigência,
do rigor e do desafio, da obstinação, ou, simplesmente, da paixão, é justamente
o preço que estamos dispostos a pagar. |
|